Os melhores contos de Marcelino Freire foram reunidos recentemente em uma Seleta. A iniciativa da José Olympio retoma uma tradição da editora e valoriza a trajetória do autor pernambucano, há mais de 20 anos publicando narrativas breves no Brasil.
Por conta desse lançamento, Marcelino conversou com o Rascunho, em um longo papo com o jornalista Luiz Rebinski. Esse conteúdo é um dos destaques da edição de março do jornal, que já está toda disponível no site e segue para os assinantes do impresso.
“Na hora de escolher os contos ‘preferidos’, pensei logo naqueles textos que as pessoas mais procuram, mais encenam, mais vêm me perguntar sobre”, diz a respeito da escolha das histórias.
Autor de cinco coletâneas de contos, ele está terminando seu segundo romance, Escalavra, e respondeu às perguntas do Rascunho de Buenos Aires, para onde foi justamente terminar a longa narrativa. “É um livro fugitivo faz tempo. O livro impossível. Eu insisto…”
Se Marcelino é um escritor já estabelecido na literatura brasileira, o paulista (nascido em Minas Gerais) Bruno Ribeiro acaba de ganhar notoriedade com Porco de raça, romance vencedor do Prêmio Machado DarkSide.
O livro, segundo João Lucas Dusi, que entrevistou o autor, “é violento, ambíguo e caótico”. Na entrevista ao Rascunho, Ribeiro fala sobre racismo na literatura, certo bom-mocismo que tomou conta da ficção brasileira e de sua produção de não ficção, também premiada recentemente pela Todavia. O autor também publicará novo romance pela Alfaguara.
“Queria que o livro fundisse gêneros e arranjos familiares de maneira pouco óbvia, flertando com o inconsequente e o nonsense”, diz sobre a jornada de Porco Sucio, personagem sequestrado que se torna uma espécie de superstar no submundo das lutas clandestinas, levantando questões relacionadas ao racismo e à falibilidade do sistema econômico vigente.
Já a seção Inquérito é respondida pelo romancista Francisco Azevedo, autor de A roupa do corpo. Ele fala sobre questões vitais de seu trabalho, preocupações estéticas e felicidade.
Resenhas e indicações
Entre as resenhas, a edição traz textos sobre Erva brava, livro de contos da brasiliense Paulliny Tort, analisado por Stefania Chiarelli, a coletânea de poemas A libertação de Laura, de Helena Zelic, resenhado por Rafael Zacca, e o mais recente romance da carioca Simone Campos, Nada vai acontecer com você, em crítica assinada por Gisele Barão. Ainda entre os livros brasileiros, Elas marchavam sob o sol, da paulista Cristina Judar, ganha destaque no texto de Ana Cristina Braga Martes.
Entre os livros de autores estrangeiros, o novo romance do chileno Alejandro Zambra, Poeta chileno, é analisado por Jonatan Silva, para quem a obra “se perde na tentativa desenfreada de condensar muitas variáveis”. Marcos Alvito resenha Por que você dança quando anda?, do djibutiano Abdourahman A. Waberi, um livro narrado em um “misto de triunfalismo e autopiedade”.
Entre as indicações de leitura feitas pela equipe do Rascunho, destaque para as narrativas breves de Maria Fernanda Elias Maglio, com Quem tá vivo levanta a mão, e Livia Garcia-Roza, com Restos e rastros, obra marcada pelo luto da autora após a morte do marido, em 2020, o romancista Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Destaque também para a poesia, com as obras Balanço, poemas reunidos (1990-2000), de André Luiz Pinto, Poesia para pandemia, organizado por Paulo Sabino, e Diário do medo, do cronista do Rascunho João Melo. Há ainda outras indicações somente com HQs e livros infantojuvenis, como O livro da selva, de Harvey Kurtzman, e Arte importa, de Neil Gaiman
Ensaios e colunas
No ensaio A ancestral magia do cinema, Mário Alves Coutinho mostra como a sétima arte, ao longo último século, absorveu a poesia, a literatura a filosofia e as artes plásticas. Já Edson Cruz esmiúça a produção poética da angolana Ana Paula Tavares, que “combina signos da modernidade e formas fixas da tradição oral para ordenar o caos do presente”.
A Semana de Arte Moderna de 1922 é o foco de Godofredo de Oliveira Neto no texto O legado da Semana de 22 é artístico, não social, em que valoriza o aspecto estético do movimento paulista.
Na coluna “Tudo é narrativa”, Tércia Montenegro dá segmento à série de textos em que analisa a obra de Raduan Nassar, destacando o “dualismo” dos livros e a presença do épico e do dramático nas narrativas do autor. O crítico, professor e romancista Luiz Antonio de Assis Brasil dedica sua coluna a um dos temas que aterrorizam autores e autoras: a hora da publicação de uma obra.
Há ainda colunas de Alcir Pécora, Eduardo Ferreira, João Cezar de Castro Rocha, José Castello, José Castilho, Nelson de Oliveira, Nilma e Maíra Lacerda, Ozias Filho, Rinaldo de Fernandes, Rogério Pereira e Wilberth Salgueiro.
Ficção e poesia
A edição de março ainda destaca as ficções da gaúcha Helena Terra, do mineiro Fernando Fiorese e dos paulistas Wilker Sousa e Fred Linardi. Na secção de poesia brasileira, a editora Mariana Ianelli seleciona trabalhos de Denise Emmer, Antônio Mariano, Lilian Sais, Raimundo Célio Pedreira e Raquel Naveira.
O tradutor e poeta André Caramuru Aubert verte para o português oito poemas de Carles Reznikoff (1894-1976), que recentemente teve sua obra redescoberta e revalorizada, sendo considerado um dos grandes poetas de língua inglesa do século 20.
Histórico
O Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000 pelo jornalista e escritor Rogério Pereira. Com sede em Curitiba e distribuído para todo o Brasil e exterior, é nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo.
Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs. O conteúdo mensal aborda a produção dos principias nomes da literatura brasileira e estrangeira. Assine aqui o Rascunho.