A primeira edição de 2022 do Rascunho traz duas gerações de autores brasileiros falando sobre suas carreiras e idiossincrasias. Aos 85 anos, o mineiro Ivan Angelo lançou recentemente uma antologia de escritos chamada Sex shop. E esse é o ponto de partida para que Ivan Angelo relembre lances importantes de sua carreira, fale do momento atual do país e comente seus planos futuros — uma série de publicações prontas, aguardando editores.
“Projetei A festa em 1963. Queria que um livro de contos se transformasse de repente em um romance”, explica o autor sobre seu livro mais celebrado na entrevista conduzida por Márwio Câmara.
Nascido em 1978, quando A festa (1976) já havia transformado Angelo em um autor celebrado, o carioca João Paulo Cuenca responde ao “Inquérito” do Rascunho, revelando, entre outras coisas, que foi em Curitiba o lugar “mais inusitado” de onde tirou inspiração para escrever.
Sensação da edição 2020 do Prêmio Jabuti, a poeta pernambucana Cida Pedrosa fechou a 10ª temporada do Paiol Literário, projeto realizado pelo Rascunho com patrocínio do Itaú. A edição publica os melhores momentos do papo, conduzido pelo editor Rogério Pereira.
Com um trabalho de décadas na poesia, a autora do premiado Solo para vialejo falou sobre suas influências, seu método de criação e a importância de manter viva a chama da utopia.
Resenhas
Duas autoras brasileiras ganham destaque na seção de resenhas. Rita Carelli e seu romance Terrapreta aparecem em resenha de Haron Gamal. No livro, a autora parte de uma morte inesperada para narrar o frutífero encontro entre uma personagem órfão e indígenas.
Já em Depois de tudo tem uma vírgula, Elizabeth Cardoso centra seu livro na mais recente ditadura brasileira, explorando os limites entre ficção de realidade ao narrar a morte de mulheres vítimas de tortura. “Depois de tudo é um livro sobre a própria literatura ou o que ela pode efetivamente fazer”, escreve Edma de Góis, que assina a resenha.
A aguardada biografia de João Cabral de Melo Neto, escrita por Ivan Marques, também é analisada. Em seu texto, Cristiano Santiago Ramos destaca o lado menos estável, racional e coerente que a biografia mostra de um dos maiores poetas da língua portuguesa, conhecido justamente por sua “secura e frieza”.
Entre os livros de autores estrangeiros, destaque para a nova coletânea de histórias curtas do sul-africano J. M Coetzee, Contos morais, que reúne narrativas sobre relações familiares e a forma como os humanos tratam os animais.
“Um possível caminho aberto pelos Contos morais de Coetzee é o desarranjo do ensinamento, deslocando a autorreflexão para fora, e a ampliação do escopo do olhar para conformações de existir que extrapolem a régua da experiência humana”, diz trecho da resenha assinada por Iara Machado Pinheiro.
O clássico O caso dos exploradores de cavernas, do americano Lon Luvois Fuller, ganha análise de Clayton de Souza, e duas recentes antologias sobre o trabalho do sérvio-americano Charles Simic — Meu anjo da guarda tem medo do escuro e Mestre dos disfarces — estão no centro do ensaio do tradutor e poeta André Caramuru Aubert, que logo de cara comemora as novas traduções. “Simic é um grande poeta. Portanto, viva!”
Sensação das listas de mais vendidos nos Estados Unidos e na Europa, a irlandesa Sally Rooney tem seu terceiro e mais recente romance, Belo mundo, onde você está, resenhado por Otávio de Moura Brandão. Para ele, Sally “tenta captar o tédio e a falta de sentido que massacram os jovens adultos”.
Colunas
A romancista Tércia Montenegro dá início, nesta edição, a uma série de textos dedicados à obra e trajetória de Raduan Nassar, autor dos clássicos modernos Lavoura arcaica e Um copo de cólera. No primeiro texto, ela apresenta um breve panorama sobre a carreira do autor, que decidiu se retirar na vida literária há mais de 40 anos.
O crítico e professor da Unicamp Alcir Pécora faz uma polaroide das selfies em sua coluna “Conversa, escuta”. E Raimundo Carrero resgata suas leituras de Jean-Paul Sartre na juventude, em especial o livro O que é literatura?
A edição de janeiro de 2022 ainda traz colunas instigantes de Eduardo Ferreira, João Cezar de Castro Rocha, José Castello, José Castilho, Luiz Antonio de Assis Brasil, Nelson de Oliveira, Nilma e Maíra Lacerda, Noemi Jaffe, Ozias Filho, Rinaldo de Fernandes, Rogério Pereira e Wilberth Salgueiro.
Poesia e sugestões de leitura
Com seleção e tradução de Elton Uliana, o Rascunho publica os poemas Filing, Because the night e Teeth shook and jasmine, do inglês Rufo Quintavalle. Já André Caramuru Aubert resgata o “beat desaparecido” Lew Welch, e traduz sete poemas do autor que se tornou personagem do famoso romance Big sur, do amigo Jack Kerouac.
Para esta edição, a editora de poesia brasileira, Mariana Ianelli, selecionou textos de Clarissa Macedo, Gilberto Tadeu Nable, Diana Junkes, Leila Míccolis e Divanize Carbonieri.
Na seção Recomenda, entre as 16 sugestões dos editores do Rascunho, destaque para a reedição da HQ Blues, de Robert Crumb, o infantojuvenil Desaforismos, de Raquel Matsushita, a coletânea de crônicas Ninguém em casa, de Luiz Ruffato, e a reunião de ensaios Livros para todos: ensaios sobre a construção de um país de leitores.
Histórico
O Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000 pelo jornalista e escritor Rogério Pereira. Com sede em Curitiba e distribuído para todo o Brasil e exterior, é nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo.
Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs. O conteúdo mensal aborda a produção dos principias nomes da literatura brasileira e estrangeira. Assine aqui o Rascunho.