A edição de junho do Rascunho já está no ar e sendo enviada impressa para assinantes. Para fazer parte da história do jornal de literatura do Brasil, que circula sem interrupção há 22 anos, escolha um plano de assinatura ou escreva para [email protected]. A arte da capa é de Fabio Miraglia.
O número 266 abre com o ensaio Tudo deve ser dito outra vez, de Vivian Schlesinger. A partir das atrocidades narradas no livro Kaputt, do italiano Curzio Malaparte, e do trabalho jornalístico Os amnésicos, da francesa Géraldine Schwarz, a paulistana mostra os horrores do totalitarismo. “É muito fácil começar uma guerra, difícil é terminá-la”, anota.
A violência perpetuada pelo Estado também está no centro da HQ Kent state: quatro mortos em Ohio, de Derf Backderf, analisada por Carolina Vigna — que inicia uma nova empreitada do Rascunho, a de resenhar histórias em quadrinhos mensalmente.
Em uma espécie de documentário artístico, o autor norte-americano ficcionaliza um episódio sangrento na história dos Estados Unidos: o confronto entre estudantes da segunda maior universidade do estado de Ohio, que eram contra o alistamento obrigatório para as guerras do Vietnã e Camboja, e soldados da Guarda Nacional.
Já no tradicional Inquérito, a gaúcha Natalia Borges Polesso fala um um pouco de sua dedicação cotidiana às letras e, ao responder uma das perguntas da seção, deixa uma polêmica no ar. Para ela, o romance As aventuras de China Iron, da argentina Gabriela Cabezón Cámara, entra na categoria de livros descartáveis.
Outros textos
Os contos de Bernardo Kucinski, reunidos em A cicatriz e outras histórias, são tema do texto de Faustino Rodrigues. Para o resenhista mineiro, o conjunto — que trata das heranças da ditadura militar e outras formas de expressão — não cai em discursos prontos.
Outro nome brasileiro da edição é Heloisa Seixas. Em Negativas que afirmam, Paulo Paniago mergulha n’O livro dos pequenos nãos, romance mais recente da autora carioca, no qual ela intercala histórias para mostrar como o acaso interfere nas decisões humanas.
Em Do meu corpo para o espaço, Ana Luiza Rigueto resgata a importância histórica de Dia Garimpo, primeiro e único livro de poemas de Julieta Barbara — autora que, com traços modernistas e transitando fora das redomas de um feminino sublime, volta a circular após mais de oitenta anos.
A nova edição do romance O dom do crime, de Marco Lucchesi, é analisada por Luis Campagnoli. Em Um aceno ao Bruxo, o resenhista esmiúça as estratégias narrativas do autor, que empresta o tom machadiano para revisitar um crime ocorrido no Rio de Janeiro do século 20.
Saindo do território nacional, Iara Machado Pinheiro desembarca no trabalho do italiano Emanuele Trevi, autor de Duas vidas. A paulistana destaca o teor pessoal da obra, que tenta deixar claro a alteridade incontornável das relações humanas e a pluralidade quase aleatória que forma cada pessoa.
Os clássicos também não escapam ao número 266 do jornal: as particularidades da Epopeia de Gilgámesh, mais antiga do que as narrativas de Homero e cuja autoria é atribuída a Sin-Iéqui-Unnínni, é tema de resenha assinada por Clayton de Souza.
No ensaio As cinzas de Camus, que revisita um dos personagens mais lembrados da literatura contemporânea, Evando Nascimento analisa o romance O caso Meursault, de Kamel Daoud. Com independência estética e política, o autor argelino oferece novas interpretações a um famoso crime literário.
Se o clássico está presente, direta ou indiretamente, uma aguardada estreia também dá as caras. O último samurai é nome do texto em que Lúcio Reis Filho se debruça sobre o romance O crepúsculo do mundo, que marca os primeiros passos do cineasta alemão Werner Herzog na literatura de ficção.
Já em Manhã submersa, publicado em 1954, o português Vergílio Ferreira apresenta uma história reflexiva e poética sobre tempos marcados pela repressão salazarista — é o que Gabriela Silva, de Porto Alegre, mostra em A obscura memória do seminário.
Colunas
Na Tudo é narrativa deste mês, em Barroquismos de Raduan, Tércia Montenegro analisa mais aspectos do trabalho de um dos autores nacionais mais aclamados pelo público e crítica.
“Se em Lavoura arcaica o dualismo vinha basicamente pela diferença entre gerações, em Um copo de cólera a lição de Raduan Nassar sobre a dificuldade dos relacionamentos humanos parece se completar”, anota.
A edição de junho ainda traz colunas de Alcir Pécora, Eduardo Ferreira, Fabiane Secches, João Cezar de Castro Rocha, José Castello, José Castilho, Luiz Antonio de Assis Brasil, Nelson de Oliveira, Noemi Jaffe, Ozias Filho, Raimundo Carrero, Rinaldo de Fernandes, Rogério Pereira e Wilberth Salgueiro.
Inéditos, traduções e sugestões
Abecedário, da mineira Tarisa Faccion, A batina do padre, do pernambucano Lula Arraes, e Dedicatória, do baiano Luís Pimentel, são as narrativas inéditas do Rascunho de junho. Além disso, a edição também traz cinco nomes na seção Poesia brasileira: Felipe Fleury, Marília Kosby, Mônica Menezes, Ismar Tirelli Neto e Wladimir Saldanha.
No campo das traduções, Astier Basílio traz para o português versos do russo Óssip Mandelstam, Adriana Lisboa traduz o mexicano Manuel Iris e André Caramuru Aubert apresenta ao público brasileiro o trabalho da norte-americana Sharon Olds.
O romance Eva, da cronista do Rascunho Nara Vidal, é uma das oito indicações da seção Rascunho recomenda. As outras oito, compostas por títulos infantojuvenis e HQs, podem ser conferidas aqui.
Histórico
O Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000 pelo jornalista e escritor Rogério Pereira. Com sede em Curitiba e distribuído para todo o Brasil e exterior, é nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo.
Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs. O conteúdo mensal aborda a produção dos principias nomes da literatura brasileira e estrangeira. Assine.