Em uma tentativa de permanecer viva por mais tempo, tomei vergonha na cara e uma atitude para ser menos sedentÔria. Agora eu faço pilates. Me tornei uma dessas pessoas que cuidam da saúde. Quem te viu, quem te vê, Carolina. E tudo, absolutamente tudo, dói. O meu cabelo dói. Bem que suspeitei que esse negócio fitness era um esquema de pirâmide para vender analgésico e anti-inflamatório.
Ando devagar, com dor. Nina reclama, quer ir mais rÔpido. Nesse ritmo vamos perder aquele outro cachorro ali que nós absolutamente pre-ci-sa-mos cheirar. E o pombo fugiu. Assim não dÔ.
A lerdeza associada à preguiça faz com que eu arrume uma desculpa para sentar num boteco do caminho. Peço o trigésimo café do dia e um pão de queijo, que divido com Nina. Quase conformada com essa humana não muito Ôgil que ela arrumou para si, Nina deita no chão ao meu lado.
No shuffle, o Spotify toca Cantador, da Nana Caymmi. A mĆŗsica Ć© lindĆssima, mas āeu canto a dor de uma vida perdida sem amorā Ć© algo que nĆ£o me representa em absoluto. Amo e nĆ£o desperdiƧo a vida que tenho. Portanto, exercĆcio, dieta, essas coisas horrĆveis. Ć um pequeno Ć“nus para um grande bĆ“nus.
NĆ£o gosto de desperdĆcios. De vida, de afetos, de energia.
Em conversa com um amigo querido, falamos sobre o não-falar, sobre a falsidade que jaz no silêncio quando hÔ algo a ser dito. Rapidamente chegamos na impossibilidade da neutralidade.
Ć muito comum que boas pessoas nĆ£o se posicionem frente ao mundo, perseguindo uma aceitação mais ampla. Isso serve para questƵes profissionais, polĆticas, sociais, artĆsticas, pessoais, tanto faz. Ć o sujeito que nĆ£o debate algo mesmo tendo uma opiniĆ£o a emitir. Debater Ć© muito, muito diferente de desrespeitar, só lembrando.
Volto ao meu amigo. Para ele, assim como para mim, conversar é um ato de generosidade. à mostrar suas fraquezas, abrir a ferida, dar a possibilidade de fala ao outro. Talvez por isso, para nós dois, conversar seja uma forma de abraço.
Sigo andando pela rua. Seguimos, Nina e eu, refletindo sobre os amigos que tenho, sobre a qualidade dessas relaƧƵes e me dou um tapinha nas costas. Se tem uma coisa que eu fiz bem nessa vida foi filho e amigos.
Por aqui, estamos em plena Ć©poca de bloquinhos. Apesar de adorar samba ā como, acredito, jĆ” demonstrado nesse espaƧo em diversas ocasiƵes ā, nĆ£o sou muito fĆ£ de aglomeraƧƵes, carnavalescas ou nĆ£o. A pandemia só agravou a minha aversĆ£o a essas iniciativas. Talvez seja ruim da cabeƧa, vai saber.
Passa um carnavalesco fantasiado e Nina fica muito, muito confusa.
NĆ£o a culpo.