O Rascunho de outubro já está disponĂvel no site e começa a ser enviado para assinantes. Para receber o impresso mensalmente, ou acompanhar o material online, escolha um plano (a partir de R$ 7,90).
Entre os destaques do número 258 estão uma entrevista com o escritor mineiro André Sant’Anna, que comenta aspectos de seu livro mais recente, Discurso sobre a metástase, e a transcrição do bate-papo com a gaúcha Veronica Stigger, quarta convidada da 10ª temporada do projeto Paiol Literário.
Na conversa, conduzida por JoĂŁo Lucas Dusi, Sant’Anna revela como captou o clima sinistro do Brasil atual que permeia as narrativas de difĂcil classificação que compõem o livro. “Os discursos que ouvimos hoje no horário nobre sĂŁo absolutamente absurdos, cruĂ©is e ridĂculos”, comenta o autor.
Veronica, por sua vez, tambĂ©m deixa claro seu descontentamento em relação Ă situação do paĂs. Em sua participação no projeto realizado pelo Rascunho — com patrocĂnio do ItaĂş, por meio da Lei Federal de Incentivo Ă Cultura —, a autora de Sombrio ermo turvo e Sul, entre outros livros, diz que nĂŁo teremos paz, em vários sentidos, enquanto Bolsonaro estiver no poder.
“Está difĂcil para o mundo inteiro enfrentar a pandemia, mas nĂłs ainda temos que enfrentar essa criatura criminosa e desqualificada”, afirma. Apesar dos comentários mais rascantes, ela tambĂ©m fala de outros assuntos, como a origem de seu interesse pelas artes e o caĂłtico mĂ©todo criativo que cultiva (“Meu processo de escrita Ă© um desastre”).
Já escritora e ensaĂsta Rosiska Darcy de Oliveira responde ao tradicional InquĂ©rito do Rascunho. De acordo com a carioca, que ocupa da Cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras, sua paixĂŁo pela literatura surgiu logo que aprendeu a escrever. “Brinquei muito com palavras e nuvens”, conta a autora de Liberdade.

Ensaios e resenhas
Em uma análise de fĂ´lego, Silvio DemĂ©trio deixa a pista já no tĂtulo: É tempo de ler Joan Didion. Para corroborar com sua afirmativa sobre a norte-americana, o paranaense visita alguns lançamentos e reedições de obras da musa do new jornalism, encarada pelo autor do ensaio como uma das figuras centrais para a compreensĂŁo da cultura do sĂ©culo 20. Rastejando atĂ© BelĂ©m e O ano do pensamento mágico, ambos traduzidos em 2021, sĂŁo dois dos livros comentados.
O argentino Julio Cortázar, que teve recentemente o livro Todos os contos lançado pela Companhia das Letras, tambĂ©m Ă© tema de ensaio. Em seu texto, o paulistano Arthur Marchetto mostra como o mestre da narrativa breve revelou, em seu trabalho ficcional, a insuficiĂŞncia do conceito de realidade e a força dos espaços onĂricos.
Ainda sobre autores da AmĂ©rica do Sul, uma resenha do brasiliense Paulo Paniago mostra como, nos contos de Dedos impermitidos, a curitibana Luci Collin desvia da morna convenção ficcional para entrar no territĂłrio da experimentação. E o carioca Haron Gamal, na resenha Amores secretos, analisa como StĂŞnio Gardel expõe os absurdos de um paĂs atrasado em seu romance de estreia, A palavra que resta.
O carioca Marcos Alvito mostra como, por meio do contraste entre personagens, o crĂtico inglĂŞs James Wood Ă© sutil ao retratar a vida de uma famĂlia disfuncional em Upstate, seu segundo romance. E Gisele Eberspächer, de Curitiba, encara o romance epistolar Querido Diego, sua Quiela, de Elena Poniatowska, no qual a autora francesa narra a triste realidade da primeira esposa do pintor mexicano Diego Rivera.
Fechando a seção de resenhas, o texto Memórias póstumas de um ditador, de Gabriela Silva, esmiúça as facetas do defunto-narrador de Sua excelência, de corpo presente, do premiado autor angolano Pepetela.

Colunas
Na coluna Garupa, Noemi Jaffe visita os traços e os textos da cartunista Laerte, vencedora do Troféu Juca Pato de 2021, relacionando seu trabalho com o de Franz Kafka, famoso por seu humor peculiar. “Laerte, como Kafka, também cria um lugar que simultaneamente conhecemos e desconhecemos, com significados que, mais do que esclarecerem as coisas, iluminam o absurdo que habita em tudo.”
Já em Tramas & Personagens, a análise de Luiz Antonio de Assis Brasil é sobre o delicado tema da “voz autoral” na ficção. “É complicada a afirmativa de que, em qualquer história, há um narrador que a escreve, uma entidade fantasmática, situada nos calabouços da criação”, diz o professor de escrita criativa, que desdobra seu texto em dez tópicos elucidativos.
Completam o time de colunistas: Alcir PĂ©cora, Carola Saavedra, Eduardo Ferreira, Fabiane Secches, JoĂŁo Cezar de Castro Rocha, Jonatan Silva, JosĂ© Castilho, JosĂ© Castello, MaĂra Lacerda, Nelson de Oliveira, Nilma Lacerda, Ozias Filho, Rinaldo de Fernandes, RogĂ©rio Pereira (editor do Rascunho), TĂ©rcia Montenegro e Wilberth Salgueiro.
Inéditos
Na seção de ficção autoral, o carioca Fernando Molica aparece com um trecho de seu novo romance, Elefantes no cĂ©u de Piedade. Já na seção de Poesia brasileira, a editora Mariana Ianelli seleciona o trabalho de cinco autores: Alberto Pucheu, FabrĂcio Marques, Bárbara Maçanares, Hosanna Almeida e LaĂs Araruna de Aquino.
Na colaboração do mĂŞs, AndrĂ© Caramuru Aubert traduz versos do norte-americano Alvin Feinman, considerado um exemplo perfeito de “poeta de poetas”: publicou apenas um livro e nunca era incluĂdo em antologias, mas tinha admiração de seus pares. Tanto Ă© que foi contemplado pelo crĂtico Harold Bloom em O cânone Ocidental.
Recomenda
Dos 16 livros indicados na seção deste mês, entre romances, contos, ensaios, infantojuvenis e histórias em quadrinhos, destacam-se a biografia Lúcia Machado de Almeida: uma vida quase perfeita, assinada por Regis Gonçalves, e a HQ Pele de homem, do francês Hubert.
A equipe do Rascunho também selecionou livros dos brasileiros Marcelino Freire, Ana Elisa Ribeiro e Carola Saavedra, e dos estrangeiros Gilbert Hernandez e Alexandra Penfold, entre outros. A arte da capa é assinada pelo artista Thiago Thomé Marques.
HistĂłrico
O Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000 pelo jornalista e escritor RogĂ©rio Pereira. Com sede em Curitiba e distribuĂdo para todo o Brasil e exterior, Ă© nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteĂşdo. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crĂ´nicas e trechos de romances), ilustrações e HQs. O conteĂşdo mensal aborda a produção dos principias nomes da literatura brasileira e estrangeira.