Poemas de Alexandre Marino

Leia os poemas "Sete planetas", "Horizontes", e "Transitórios"
Alexandre Marino, autor de “Hiatos”
01/02/2021

Sete planetas

Sete planetas encontraram,
na órbita da estrela Trapista.
Sete clones da Terra,
sete sonhos para o futuro,
quando não houver mais saída
além da próxima esquina.

Como serão seus nativos?
Como serão suas guerras?
Talvez precisem de nós.
Exportamos automóveis,
soja e quinquilharias,
construímos hidrelétricas
e rodovias.

Alcançarão com suas naves
minha dor à contraluz?
Visível por telescópios,
um belo planeta azul
esconde sob o tapete
o que vemos a olhos nus.
Miséria e poesia
a quarenta anos-luz.

…..

Horizontes

Para Nádia, com amor.

O horizonte é um lugar que não existe
mas lá estão as cidades que amamos.
Não existe, e no entanto,
para lá viajamos quando tristes,
e lá enterramos nossos tesouros.

Lá se esconde nossa salvação
e abrimos nossa caixa de pandora.
Todos os males do mundo já existem
e uma eterna mistura de tragédias e utopias.

Sabemos que são árduos os caminhos
mas há um mistério que nos guia:
um odor sem odor, onda magnética
uma luz vinda de temporais ou brisas.

O horizonte é um lugar que não existe
porque se esconde entre outros horizontes,
move-se ao sabor de ventos e vontades
e o escondemos em nosso próprio labirinto.

O horizonte é um lugar que não existe,
mas o inventamos porque somos livres.

…..

Transitórios

Vamos tomar um porre,
a noite é longa e breve.
Há sempre alguma estrela
prestes a morrer
em alguma curva do universo.
A lua nova cresce a cada hora.

Quando a manhã chegar
e não houver mais ressaca,
poderemos colher laranjas,
antes que apodreçam.

Ontem era futuro,
e eu estive lá.
João odiava Teresa,
que odiava Raimundo,
que odiava Maria.
Agora todos estão mortos.

Onde estava Deus
quando Satã venceu?

Vamos fugir para as montanhas
antes que desabem.
Juramos amor para sempre
até que a morte nos separe.

O tempo é transitório.
Não temos vocação para a eternidade.

Alexandre Marino

Nasceu em Passos (MG), em 1956, e formou-se em jornalismo em Belo Horizonte. Publicou sete livros de poesia, entre os quais Arqueolhar (2005), Exília (2013) e Hiatos (2017).

Rascunho