Foi-se o papa Francisco, foi-se Pepe Mujica, e o café que seria de nos aquecer está caríssimo. Ao menos haja sapatos bem solados, agora que é pouca sombra para muito caminho. E haja coragem encarnada em arrojo para quem é passada a tocha, não vá a esperança se desfazer em palestra se ainda pode alcançar nossos olhos e mãos, rompendo a casca das letras.
Porque os bons que nos deixam atestaram, por sua existência mesma e suas estradas, que um mundo mais humano e mais alegre pode ser coisa palpável. Porque os bons que nos deixam ainda ardem na ousadia de quanto sonhamos e vivemos de verdade, e sonhar é pra já, viver de verdade é pra já, no caminho dos apaixonados. Vagalumeamos e são os sonhos bem sonhados que dão a esses nossos míseros pontos de luz um vigor importante de tocha.
Foi também um apaixonado pelo músculo vivo da vida quem uma vez, em outros tempos, tomou pra si uma frase pichada num muro de cemitério que dizia “Sem tesão não há solução”. Tesão aí compreendido fora de seu estado de verbete, como o que nos liga sensualmente pela atenção total do corpo, por uma alegria lúdica e comunicante e pela beleza de quanto podemos criar com arte.
Foi-se o santo homem que inspirava gentes tão diferentes com seu calor extra-protocolar. Foi-se o sábio homem que era sóbrio de bens, destemido de coração, que caía e se levantava, caía e se levantava, e era livre de desperdícios, movido a paixão. E nós estamos aqui, ainda. Vivemos, ainda. Vivemos? Ardemos bem? Corremos esse risco? Continua em nós um pouco do que nos inspiravam os bons? Haja coragem, pois caminho não falta. E se faltar café, agora embalado com alarme antifurto nas altas prateleiras dos mercados, que não nos falte tesão… nem nos faltem bons sapatos.