Ao fazer um memorial para o trabalho, de repente me dou conta que estou aqui semanalmente desde 1º de outubro de 2020. Duzentas e vinte e três crônicas. Duzentas e vinte e quatro com essa. A generosidade da casa me comove. Parece que vivi umas três ou quatro vidas desde então. Não faço muito o tipo saudosista. Acho mesmo que o dia de hoje é melhor que o de ontem. Tampouco sou ingrata. E jamais, jamais esqueço quem me ajuda. Ao Rascunho, só gratidão.
Mas não se enganem. Não sou esse ser gratiluz, não. Sou igualmente capaz de catalogar minhas feridas e meus desafetos pela ABNT e fazer backup na nuvem. Em 2024 eu sofri uma puxada de tapete daquelas que deixa a gente até tonta. Não foi a primeira vez na vida em que perdi e, temo, não será a última. Tudo bem, a vida dá voltas. E eu lembrarei.
Chego de volta quente de pepino para resolver. Máquina de lavar roupas parou de centrifugar. Alguém precisa dizer para os fabricantes que esse é meio que o principal motivo pelo qual usamos essas máquinas. Elas lavam mal, enxaguam mal, não esfregam roupa, não tiram mancha direito, mas centrifugam.
Teve uma vez que alguém da minha bolha anunciou a venda de um celular com a câmera quebrada. Fazia ligação, recebia mensagem, tudo. Só não tirava foto. Eu não uso celular, uso uma câmera que por acaso e contra a minha vontade, faz todo o resto.
A mala voltou com a rodinha quebrada. Era uma mala de má qualidade, viajando em uma companhia aérea pouco cuidadosa. Foi para o lixo, simplesmente desapeguei.
Agora ando às turras com o Kindle. Cancelei o unlimited. Voltei a comprar livros em papel, como faziam os neandertais. Esses, pelo menos, são meus e eu posso inclusive doá-los se desejar. Ou, pelo menos, priorizando quando posso. Estou um pouco cansada dessas modernidades.
Deve ter alguma área da engenharia de produção, do marketing, da administração, da economia, sei lá quem cuida disso, que reflete a respeito do motivo da compra de algo. Deixo de dica: essa área, seja lá qual for, está precisando de gente.
Nem sempre faço boas escolhas, mas sempre erro com o coração no lugar certo.
Estou prestes a completar 54 bem vividos anos. Tem um meme maravilhoso, que me representa, que diz assim: “Eu sou bem mais inteligente do que a minha escolha de namorados te levaria a crer”. Até agora, só nunca errei na escolha de companheiros quadrúpedes.
Dos quadrúpedes que latem, meu grande amor é a Nina Simone. Dos que miam, Aquiles sempre será rei. Quando ele morreu, passei uma semana sem conseguir comer direito, sair de casa, trabalhar, nada.
A gente não adota um bichinho, a gente acolhe um amor.