Poética do desassossego

Wilbett Oliveira é um poeta do sintético, do resumido, da poesia do menos, captando o mundo de forma fragmentária
30/07/2019

O mineiro Wilbett Oliveira é um poeta do sintético, do resumido, da poesia do menos. Capta o mundo de forma fragmentária, tirando dele imagens que desconfortam, uma vez que seu eu lírico está sempre alerta diante dos entulhos do tempo. Há, tanto no livro Salmodiar (Opção, 2011) como em Escombros (Opção, 2014), uma tensão entre a palavra e o presente histórico. A palavra no poema está impregnada pelas violências do tempo, pelo mal que se impõe à realidade — por isso “a poesia retira o sal das palavras e das coisas”. A palavra diz das “incertezas”, de “realidades esfaceladas”. A palavra se volta para as “sobras”, para os entulhos mesmo da civilização. Daí, na falta de palavras para expressar os horrores do cotidiano, o poeta dizer cada vez “menos”. Os nossos tempos, como bem é indicado num dos poemas de Escombros, são “descomedidos”. Tempos da “ignorância dos homens”, de “ruas órfãs”. E, portanto, de uma poesia “de contrários”. São essas as imagens que mais chamam a atenção na poética de Wilbett. Uma poética do desconforto que, no entanto, nos atrai pelo poder da expressão — que, sendo do menos, diz mais, sempre mais.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

Rascunho