Na caixa de sapatos Rogério Pereira Campo Largo – PR A mãe lia a Bíblia com a ponta dos dedos. Tateava as letras em busca de alguma salvação, de um significado. Os dedos, sempre lentos, grossos, pesados sobre o papel fino, quase transparente Edição 173, Rogério Pereira, Setembro de 2014
Três picolés para Deus Rogério Pereira Campo Largo – PR A mãe sempre nos quis ao lado de Deus. Ao pai, era indiferente Agosto de 2014, Edição 172, Rogério Pereira
Do meio do mundo, o gol Rogério Pereira Campo Largo – PR Escolhemos os times: de um lado, eu; do outro, ele. Divisão simples para uma partida complexa Edição 171, Julho de 2014, Rogério Pereira
McDonald’s, 1973 Rogério Pereira Campo Largo – PR Então, morri. Não sei muito bem como. Talvez dormindo. Ou atravessando a rua. De uma coisa tenho certeza: meu projeto de chegar aos 85 anos naufragou Edição 170, Junho de 2014, Rogério Pereira
À espera do pai Rogério Pereira Campo Largo – PR Nunca odiei tanto o pai. Eu o esperava na porta de casa. Ele descia a rua de pedregulhos. Havia pouco tempo deixáramos a roça. Agora, tínhamos de cavar um chão de concreto e asfalto Edição 169, Maio de 2014, Rogério Pereira
Homens barbudos Rogério Pereira Campo Largo – PR Eles viajaram quase setecentos quilômetros. Deixaram a roça no fim da tarde, cortaram a rodovia na madrugada Abril de 2014, Edição 168, Rogério Pereira
Pelé Rogério Pereira Campo Largo – PR Nosso Pelé era uma fraude. Gordo e desajeitado, chutava com a perna esquerda. Não sabia cabecear. Seus gols, raridades num antiquário de mentira Edição 167, Março de 2014, Rogério Pereira
Pito e Gélo Rogério Pereira Campo Largo – PR “Aos trinta e nove anos, meu primo desistiu de ter a mesma idade que eu. Cinco tiros são sempre suficientes para mudar o rumo de algumas coisas.” Edição 165, Janeiro de 2014, Rogério Pereira
A casa demolida Rogério Pereira Campo Largo – PR Eles chegam cedo. São dois homens atarracados, resistentes. Preparados para o serviço brutal Dezembro de 2013, Edição 164, Rogério Pereira
A estranha vida da senhora Z. Rogério Pereira Campo Largo – PR A senhora Z. perdeu todos os dentes. Ganhou uma incômoda dentadura. Os filhos cresciam. Os dentes caíam Edição 163, Novembro de 2013, Rogério Pereira