“Escrever um romance Ă© tambĂ©m pescar baleias. Precisamos do mesmo esforço fĂsico e fatalmente da mesma incompreensĂŁo”, anota o tradutor e escritor F., protagonista desta que Ă© a segunda narrativa de fĂ´lego de MaurĂcio Melo JĂşnior. Na trama, o olhar de um estrangeiro estudado recai sobre um paĂs ainda marcado pela cultura da escravidĂŁo na dĂ©cada de 1920. Com toques metaliterários, a histĂłria se desenvolve em trĂŞs eixos: todas com o objetivo de valorizar a literatura e a leitura, tendo como pano de fundo os contrastes que marcam o Brasil a partir do Recife — municĂpio do estado natal de alguns importantes intelectuais nacionais, como Gilberto Freyre. AlĂ©m disso, o romance flerta — direta e indiretamente — com Franz Kafka. Segundo Carlos Nejar, que assina a orelha da obra, a frase do escritor tcheco utilizada como epĂgrafe deste NĂŁo me empurre para os perdidos traz consigo uma importante chave de leitura: “Tive algumas apreensões no tocante a descobrir se a minha vida seria bastante para a duração de minha existĂŞncia”.