🔓 Novo livro de Rogério Pereira traz crônicas marcadas pela memória

Publicados no site “Vida breve” e no “Rascunho” entre 2009 e 2021, os 40 textos de “Toda cicatriz desaparece” foram escolhidos e organizados por Luiz Ruffato
Rogério Pereira, autor do livro de crônicas “Toda cicatriz desaparece”
16/11/2022

Marcadas por um tom memorialístico, as crônicas do paranaense Rogério Pereira costumam retratar temas recorrentes, como a infância, a pobreza e as relações familiares. São centenas de textos que formam uma espécie de romance autobiográfico fragmentado. Sob a curadoria do escritor Luiz Ruffato, esse material é reunido agora em Toda cicatriz desaparece.

O livro será lançado nesta quinta-feira (17), na Livraria da Vila do Pátio Batel (Avenida do Batel, n°. 1868, piso L3), às 19h. O escritor também autografa a obra durante a Flip, no dia 26 de novembro, das 10h às 11h, na Casa PublishNews.

As 40 crônicas escolhidas e organizadas por Ruffato foram publicados entre 2009 e 2021 no site Vida breve e no Rascunho, jornal fundado e editado por Pereira há 22 anos. O trabalho com recordações e imagens da infância é o fio condutor da seleção. Esse é o primeiro livro de Pereira desde o romance Na escuridão, amanhã, publicado há nove anos. O livro finalista do prêmio São Paulo de Literatura e ganhou menção honrosa no Prêmio Casa de Las Américas (Cuba).

A escrita das crônicas, embora muitas vezes lírica, desenvolve-se sob o peso de uma infância que se desenha como uma batalha perdida, porém inevitável. Assim, assume-se o compromisso com o passado, encarando-o como uma velha pilha de fotografias.

“Como venho de uma família muito pobre e de pais semianalfabetos, a infância representa uma luta constante para tentar explicar o que sou, quem sou e como cheguei até aqui — a este ‘abismo’ perto dos 50 anos. A infância é um salto possível comigo mesmo o tempo todo”, explica Pereira.

Ao interpretar as páginas de Toda cicatriz desaparece, o leitor que acompanha mais de perto a carreira de Rogério Pereira poderá notar que alguns textos revelam lembranças pulsantes e vivas no corpo, enquanto outros surgem como o retrato de um morto desconhecido que, independentemente de ser lembrado ou não, persiste como assombração, produzindo imagens fugazes e ásperas.

Contexto
Segundo Luiz Ruffato, embora os textos reunidos possam ser lidos como fragmentos de uma autobiografia conturbada, eles formulam, por meio de um depoimento corajoso, uma reflexão importante sobre o passado, não apenas do narrador, mas do Brasil, um passado repleto de injustiças, humilhações, impasses.

Desse modo, a infância desenha-se como um quadro ambivalente, de alegrias e tristezas exacerbadas em um mundo hostil, em uma cidade que “em vão tentava acolher”, mas, ainda assim, repleta de descobertas possíveis.

Escrita minuciosa
Exigente em suas escritas, por vezes perfeccionista, Rogério Pereira fez pequenos ajustes nos textos para essa edição. Uns receberam cortes; outros, pequenos acréscimos. Títulos foram refeitos na busca de conferir uma maior coesão ao conjunto.

“Evitei repetições entre um texto e outro, pois foram escritos durante um espaço de tempo relativamente longo. Era necessário cotejá-los e ajustar uma coisa ou outra”, ressalta o autor, que tem contos publicados na Alemanha, na França, no Peru, no Equador, na Finlândia e na Argélia.

Dos primeiros beijos aos destinos trágicos ou banais dos colegas de escola, das derrotas em jogos e brincadeiras às pequenas alegrias de natais de escassez, Rogério Pereira evidencia em seu novo livro que, embora desapareçam, as cicatrizes precisam ser tocadas.

“Rogério Pereira é da família dos escritores que estão sempre remexendo suas próprias feridas, que, singulares em sua manifestação, transformam-se, por conta da linguagem, em experiências comuns a um enorme contingente de pessoas”, completa Luiz Ruffato.

Toda cicatriz desaparece
Rogério Pereira
Maralto
208 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho