🔓 Prisca Agustoni

Ensaio fotográfico de Prisca Agustoni
Foto: Ozias Filho
01/05/2022

Uma língua de enamoramento, de afetos, de pertenças, de proximidades vária, não se traduz exclusivamente numa língua natal, que a trazemos de berço, que está inscrita no nosso DNA por contingências de família e territoriais.

Nesse contexto, esta será a primeira que habitamos, na qual moldamos os primeiros passos de madureza da fala, e firmamos raízes, ou bússolas para novos nortes. A língua de nascença é, naturalmente, casa, pouso, aconchego, que primeiro habitamos, e que aprendemos a conhecer todos os seus cantos, recantos, encantos e desencantos, visíveis ou ocultos, musicais ou silenciosos, revoltados ou consensuais.

Esta língua é o primeiro amor declarado. Mas haverá outros amores como o primeiro em outras paragens, ou ser este cidadão do mundo, que muitos apregoam, é mera retórica? Para a escritora Prisca Agustoni, pode-se habitar uma língua, seja ela qual for, e a chamarmos de casa, nossa casa. Afirma isso com a simplicidade de quem domina outros idiomas, mas, sobretudo porque vive, sente, e incorpora todo um conjunto de memórias e de afetos que brotam da expressão desta nova língua adotiva.

Eu a conheço desde 2004, e toda a vez que ela surge, por algum motivo, nos meus pensamentos, a recordo como um ser deste vasto universo da língua portuguesa. Para mim, Prisca Agustoni não nasceu na Suíça, mas num qualquer lugar do Brasil que pronuncia de forma polida, clara e feminina. Um qualquer lugar do Brasil que talvez eu pudesse chamar de Ítaca ou Pasárgada.

Habitar uma língua é deixar que ela nos habite primeiro, que ela crie os seus veios, suas raízes, mais ou menos profundas, que construa histórias como quem constrói cidades povoadas. A língua de fato é uma casa, mas antes ela reside, existe, dentro de nós.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

 

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
Prisca Agustoni
Nasceu em Lugano, Suíça italiana, em 1975. Viveu nove anos em Genebra, onde se formou em Letras e Filosofia e desde 2003 vive entre a Suíça e o Brasil, onde trabalha como professora de literatura comparada e escrita criativa na Universidade Federal de Juiz de Fora e como tradutora. Poeta e autora de obras para crianças, ela escreve e se autotraduz em italiano, francês e português e faz desse lugar intersticial entre as línguas e as culturas seu motor de criação. Entre suas obras destacam-se Casa dos ossos (Macondo, 2017, semifinalista Prêmio Oceanos), O mundo mutilado (Quelônio, 2020, finalista Prêmio Jabuti), O gosto amargo dos metais (7Letras, 2022, Prêmio Cidade de Belo Horizonte de poesia). No momento se dedica à escrita do seu primeiro romance.
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvioPáginas despidas, O relógio avariado de DeusInsularesOs cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho