🔓 Final de semestre

O inferno diário de professores (e estudantes), sujeitos a intermináveis e modorrentas aulas online
Ilustração: Oliver Quinto
13/05/2021

Nós, professores, estamos vivendo o final do semestre com mais de um ano de pandemia e oito mil horas de voo em Zoom, Meet e outros aviões precários. Digo, nós professores universitários, porque escola é anual e o professor escolar é feito de outro material. Adamantium, com certeza.

É sempre uma surpresa para mim como que essa classe profissional não é recordista em homicídios ou uso de drogas pesadas. A gente vai enlouquecendo e, o que é mais grave, a gente percebe que está enlouquecendo. Acho que todos nós deveríamos ter o direito de ficar doido na ignorância.

Os alunos, assim como todo mundo, também estão surtados, é claro. Para eles, eu dou um desconto porque não é fácil ter um início de vida independente para ter essa vida proibida logo em seguida. Eu já estou na fase da vida de achar que esse negócio de interação social é hipervalorizado e que o bom mesmo é ficar em casa com um bom livro e um gato no colo. Eles não. No momento em que deveriam estar beijando muito, o mundo lhes coloca uma máscara. Quando deveriam estar ampliando horizontes, um vírus maldito lhes tranca em casa. Quando já deveriam estar vacinados, temos um genocida no poder. É muito injusto.

O agravante é que os administrativos educacionais também estão completamente fora da casinha. Conheço uma escola com cinco níveis diferentes de segurança (senhas, contrassenhas, validações) para… fazer chamada. Imagino a vontade que deve dar de dizer ah, a turma tem 50 alunos e vejo 8 online, então obviamente está todo mundo aí, pronto.

Estou convencida de que toda semana, segunda-feira bem cedo pela manhã, existe uma reunião de brainstorming, briefing ou qualquer outra palavra em inglês que caiba aqui, tanto faz, só para descobrir uma nova maneira de dificultar a vida do professor. Imagino até que deve ter algum tipo de premiação. O autor da ideia mais perversa, desnecessária ou obstrutiva ganha um cupcake. Provavelmente tem um sistema de metas e objetivos que depois elege o funcionário do mês e se traduz em algum tipo de bônus anual.

Não dou aula para os pequenos. Minha total solidariedade a esses professores. São heróis. Se o mundo fosse um lugar justo, receberiam salários milionários e se aposentariam depois de quatro anos de trabalho.

Não teve um instante nessa quarentena que eu não tenha agradecido aos céus por filho não ser mais criança.

Confessa, nem você, que pariu, aguenta mais o seu pequeno rebento na aula remota. Agora imagina conviver com essa lindeza dentro de uma sala de aula com mais outros 50 da espécie puerus rudis. Todo dia. Todo santo dia.

É enlouquecedor.

Carolina Vigna

É escritora, ilustradora e professora. Mais em http://carolina.vigna.com.br/

Rascunho