O melhor possível

Tony Bellotto: "Minha obsessão literária é a família. Minha mania é reler, reler, reler."
Tony Bellotto, autor de “Dom” Foto: Chico Cerchiaro
01/05/2022

Ao descobrir que havia alguém por trás da criação de histórias, o paulistano Tony Bellotto soube que precisaria trilhar o caminho de ficcionista — aberto a qualquer assunto, indiferente à inspiração e guiado por “todas as dúvidas, nenhuma certeza”, em busca de fazer o melhor possível. Além de uma trajetória longa no Titãs, Bellotto se dedica à literatura desde 1995, quando lançou Bellini e a esfinge, e segue produzindo até hoje. Sua publicação mais recente, Dom (2020), foi adaptada para uma série original da Amazon Prime Video, criada por Breno Silveira e com Gabriel Leone no papel principal.

• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Quando descobri que alguém escrevia as histórias.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Minha obsessão literária é a família. Minha mania é reler, reler, reler.

• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Cada dia, um dia. Hoje é a Consciência de Zeno.

• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Jair Bolsonaro, qual seria?
Um manual irresistível de autoimolação.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Vontade.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Todas.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Aquele em que é possível avançar alguns parágrafos.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Encadear uma frase na outra e observá-las depois.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
Basicamente, tudo. As pessoas, os compromissos, o celular, o estresse, a fome, o sono, os acontecimentos.

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Gosto do meio literário, não me incomoda.

• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
John Fante.

• Um livro imprescindível e um descartável.
Pedro Páramo, do Juan Rulfo, é imprescindível. Nenhum livro é descartável.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Excesso de informação técnica. Não destruiu nem comprometeu qualquer livro de Tolstói, mas torna algumas passagens chatas.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Ela está aberta a qualquer assunto.

• Qual foi o lugar mais inusitado de onde tirou inspiração?
Caixa de sucrilhos Kellogg’s.

• Quando a inspiração não vem…
Escreva do mesmo jeito.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Tolstói.

• O que é um bom leitor?
Aquele que se lembra de levar o livro para a sala de espera do dentista.

• O que te dá medo?
A possibilidade do Bolsonaro se reeleger.

• O que te faz feliz?
Botar o ponto final num romance.

• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Nenhuma certeza, todas as dúvidas.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Fazer o melhor possível.

• A literatura tem alguma obrigação?
Não pode ser chata.

• Qual o limite da ficção?
Não tem limite.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Diria que não tenho líder e desconsidero o conceito.

• O que você espera da eternidade?
Que me seja breve e acabe num suspiro indolor.

Dom
Tony Bellotto
Companhia das Letras
344 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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