No ritmo da escrita

Adriana Armony: "Aquele em que consegui escrever alguma coisa sem apagar tudo no final"
Adriana Armony, autora de “A feira”
30/09/2017

Adriana Armony nasceu no Rio de Janeiro, em 1969. Doutora em Letras pela UFRJ, é autora dos romances A fome de Nelson, Judite no país do futuro e Estranhos no aquário. Com Tatiana Salem Levy, organizou a antologia Primos: histórias da herança árabe e judaica. Acaba de lançar A feira, que segundo Beatriz Resende “é uma ficção de estrutura ágil e inovadora, com ritmo e cortes provocativos, atravessada por sofisticadas referências literárias”. No centro do romance estão as vaidades e os interesses presentes na vida literária, em que autores e feiras são os protagonistas de um espetáculo, às vezes, mesquinho e deprimente.

• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Eu adorava Monteiro Lobato, mas só percebi que queria ser escritora quando li A bolsa amarela, da Lygia Bojunga Nunes, a história de uma menina que escondia três vontades dentro de uma bolsa: crescer, ser menino e se tornar escritora. Em situações críticas, os desejos engordavam como se fossem balões e ameaçavam estourar a bolsa. Foi então que a minha estourou.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
A obsessão mais constante é Dostoiévski, com surtos de Nelson Rodrigues, Virginia Woolf, Lygia Fagundes Telles, Graciliano Ramos, Ian McEwan… são muitos e variáveis.

• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
A que me apaixona no momento.

• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Michel Temer, qual seria?
A peste
, de Albert Camus, mesmo sabendo que ele ignoraria o recado.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
As inexistentes.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
As existentes.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Aquele em que consegui escrever alguma coisa sem apagar tudo no final.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
O achado literário.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
A tela em branco.

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Como em qualquer meio, o puxa-saquismo.

• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
A colombiana Laura Restrepo (depois de Adriana Armony, é claro).

• Um livro imprescindível e um descartável.
Os demônios, de Dostoiévski. Qualquer livro de autoajuda.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Os clichês.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Nenhum. Qualquer assunto pode ser bom para a literatura, dependendo da forma como é abordado.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Da minha cabeça.

• Quando a inspiração não vem…
Não vem mesmo.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Alan Pauls.

• O que é um bom leitor?
O que sente, pensa e vive com o livro.

• O que te dá medo?
O Brasil atual.

• O que te faz feliz?
O amor.

• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
A dúvida ou a certeza de que estou de fato dizendo alguma coisa.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Descobrir o ritmo da escrita.

• A literatura tem alguma obrigação?
Ser boa literatura.

• Qual o limite da ficção?
Nenhum. O único limite deveria ser o da qualidade.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
A mim mesma. Passaria um tempo com ele e o aproveitaria como material para um livro.

• O que você espera da eternidade?
Que ela exista.

 

 

A feira
Adriana Armony
7Letras
157 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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