Poemas de Tito Leite

Leia os poemas "Trava" e "Símbolo "
Tito Leite, autor de “Aurora de cedro”
05/11/2020

Trava

O poeta e a trava da escrita.

Pássaro sonoro ou coragem
da palavra, sem malabarismo

queria algo como flamboyant
ou ipê: há nomes tão deliciosos
que dão vontade de comer.

Revirou conceitos e espantos,
nenhuma crônica saciou a parte

incompleta da sua garganta.

Ele foi cuidar do jardim como
quem medita sobre a serenidade
de uma chuva temporã.

O chão semelhante a um sânscrito
numa bata indiana.

Pedras florais em cacos de vitral.

Do pólen ao lume, a eletricidade
também tem sua sanha

uma imagem soluçou tristemente
nas gramíneas daquela manhã

[um pássaro morto

entre a areia
e as folhas —

com um pouco
mais de vento

não verei o seu rosto].

Símbolo

Todo começo é metade
e toda metade
tem o sabor
do que me falta.
Aprecio o que é visto
e brindo
ao que se espera —
abrir a janela
mesmo que por ela entrem
todas as feras.
Nas minhas circunstâncias
há sempre
um crisântemo estilhaçado
e o beco de um poema
me regenera —
só me sei em errância
no louco boêmio
ao místico
em busca do sagrado
que não se enquadra.
Nesta selva sideral
sou apenas
um homem sangrando.

Tito Leite

Nasceu em Aurora (CE), em 1980. É poeta e monge beneditino, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É autor dos livros de poemas Digitais do caos (2016) e Aurora de cedro (2019). É curador da revista gueto.

Rascunho