Já fazia algum tempo que não andava de metrô. Hoje, manhã linda ensolarada, saí de casa e caminhei até a condução. É prazeroso andar pelas calçadas do bairro, respirar o ar fresco inaugurando o dia, pisar o chão ainda úmido de orvalho, as folhas lavadas espalhando tonalidades de verde pelo meu itinerário. Passo por um corredor de árvores altas, elas parecem brincar com as sombras, enchem de claros e escuros as ruas. E como a distância é curta, rapidamente chego ao destino, sem me cansar.
Tomo acento em vagão ainda vazio, ponto final, há sempre lugares disponíveis. Um grupo de estudantes jovens, por volta de seus quatorze anos, imagino, entra fazendo alarde, rindo, obedecem a uma professora mais velha, também alegre, falando alto, tentando impor alguma ordem aos alunos, manter as rédeas curtas. Provavelmente irão visitar algum espaço cultural, há vários no trajeto, novamente tento adivinhar, quem sabe alguma tarefa escolar será resultado daquele passeio?
Embora existam cadeiras vagas, eles não se sentam, permanecem agrupados em um canto do carro, íntimos, balançando, mexendo uns com os outros, meninos e meninas, tipo de exercício próprio àquelas idades, parecem excitados com a possibilidade de se provocarem mutuamente. Pilhérias saudáveis, dá para perceber, existe carinho na forma com que se tratam.
— Você saiu de casa sem se pentear hoje — diz a baixinha sardenta para um loirinho.
— Não encontrei o pente — responde simpático, fazendo um carinho na colega.
Presto atenção em um garoto espigado, deve ser o mais alto da turma. Meio encurvado, talvez deseje disfarçar um pouco o comprimento, ele tem um olhar triste e usa máscara. Silencioso, coloca-se meio à parte. Apesar de presente e atento, não participa da euforia reinante.
A pandemia criou em mim certo impacto na presença dos objetos faciais que todos usamos para nos proteger naqueles tempos difíceis. Eles trazem consigo, pelo menos para mim, certa aura de angústia, medo, são quase vedações mortuárias. Lembro-me bem de, algumas vezes, no período funesto, sair de casa com segurança duplicada, os anteparos respiratórios de pano sobrepostos. E do receio de encontrar pelo caminho alguma doença mais insidiosa, capaz de varar o reforço sobre o nariz. Resumindo, tenho pavor de máscaras cirúrgicas. Ficou o trauma. E embora de maneira lógica considere o uso do equipamento evolução, é bonito ver alguém se preocupar em não contaminar o próximo estando gripado, ou com algum outro tipo de afecção, vejo também um ponta de egoísmo na utilização:
— Não desejo que o mundo me contamine!
No caso do nosso menino, porém, me pareceu mais um caso de timidez. Se existem jovens que se escondem debaixo de capuzes, por que não colocar um disfarce sobre o rosto? No caso, aquele pedaço de pano branco vinha bem a calhar. Cabelos longos caindo sobre a testa e óculos. Debaixo deles o olhar triste. A primeira coisa que percebi. Aquele varapau, certamente, preferia andar coberto.
Descemos no mesmo ponto. Seguiram todos juntos em reboliço. Atrás deles, como uma girafa embuçada, o menino mascarado.