Sim, 4h23. Já estou em frente ao computador, escrevendo meu texto mensal para o Rascunho, e vou escrever justamente sobre madrugada.
Durante a pandemia passei a acordar às quatro da matina. Pontualmente. Mas talvez não seja culpa da pandemia, e sim da velhice.
O fato é que isso mudou minha vida. Para melhor e para pior.
Para pior, porque há dias em que sou tomado por um sono imenso e às dez da noite já vou dormir (mesmo que tenha jogo do Santos). E é ruim você ter que se render ao seu corpo.
Antes ele fazia o que eu quisesse. Eu lhe perguntava: “Vamos ficar acordados até o sol nascer?”. E ele respondia: “Claro! Escolha o filme que eu faço a pipoca”.
Hoje, faço o que ele quer. Se o cara me manda dormir enquanto minha mulher e filho estão se divertindo com algum jogo ou conversa, obedeço. Isso me cheira um pouco a morte, a uma despedida forçada. Mas, por enquanto, ainda sei que acordo na manhã seguinte.
Por outro lado, fiquei um cara muito mais produtivo literariamente. Acordar às quatro me dá algumas horas de silêncio e solidão absolutos, e nessas horas escrevo tudo o que preciso, como este texto.
Sem telefonemas, ruídos e outras interrupções da vida trivial, esse acaba sendo um período de produção acelerada. Todos os meus livros, nos últimos cinco anos, foram escritos principalmente nesse horário. Então só posso fazer uma ode à madrugada, com seu céu negro que aos poucos vai se tornando azul, com suas luzes tímidas (sempre, em algum apartamento distante, há algum companheiro de insônia), que aos poucos vão se multiplicando e depois somem, quando chega a luz do sol.
Outra vantagem da madrugada é que o cérebro está bem desperto. Sempre fui menos burro pela manhã. As ideias vêm mais rapidamente e de modo mais objetivo, com menos penduricalhos.
Também gosto muito dos momentos antes de levantar da cama. Ali, ainda deitado, já planejo o que vou fazer e penso nas primeiras linhas da primeira coisa que vou escrever.
Enfim, fiz um tremendo elogio à madrugada como tempo de criação, mas confesso que descobri um joguinho no celular que tem atualizações todos os dias, justamente às 5 da manhã. Se eu parar de escrever, a culpa é dele. Aliás, já são cinco. Vou lá. Tchau.