Para aproximar o estudante da literatura

Uma proposta para que os jovens vejam na literatura algo lúdico, próximo de seus interesses culturais
02/08/2022

A tarefa é difícil, muito difícil, parece impossível. Talvez seja preciso dizer para não sair do lugar-comum — às vezes o lugar-comum faz um bem incrível. Muitas vezes, soluciona questões graves de criação literária. E vamos ao caso: sou procurado constantemente por professores que confessam desesperados: não conseguem fazer com que os jovens estudantes leiam novelas e romances destinadas especialmente a eles. Imaginem Jorge Amado ou Graciliano Ramos, por exemplo, Capitães da areia ou Histórias de Alexandre. Até posso concordar que Capitães é um livro de jovens, e não exatamente para jovens. Tudo bem, é por aí.

Cada vez me atormentava mais até que inventei uma proposta pedagógica lançada agora no livro A luta verbal (Iluminuras). Em princípio, pensei numa maneira de usar o celular, objeto de desejo de todo jovem — de forma a animá-lo e interagir com uma tecnologia, definitivamente ligada à vida brasileira e, óbvio, mundial. Daí imaginei que o professor adote o livro Seleta de Marcelino Freire, indicando o conto Muribeca, que faz referência a um lixão do Recife.

Depois da leitura rápida, o estudante é estimulado a localizar em seu bairro, talvez até na sua rua, um lixão ou mesmo pequenos montes de lixo, deve fazer um vídeo no celular e levá-lo à sala de aula para exibição aos colegas que podem comentar em forma de slam ou de hip-hop, de samba — tipo partido alto — ou até de duelo de violeiros. Em seguida, inventam uma dança e, caso seja necessário, sobem ao palco da escola para exibição pública. Finalmente, o professor deve recomendar uma redação.

De certa forma, a proposta resolve o sonho antigo de fazer as pessoas lerem romances, sem a sensação de inutilidade, como se costuma dizer por aí, nem sequer considerando que a leitura abre a sensibilidade para o mundo. E, com a sensibilidade, a compreensão, o que resulta, sem dúvida, em melhor sociabilidade. Portanto, paz no mundo.

Por tudo isso, escrevi A luta verbal — um manifesto literário que se define como um grito de dor contra a fome, contra o racismo, contra toda discriminação, com um apelo de entusiasmo a favor da leitura, da escrita, sobretudo a favor da mulher brasileira e do seu empenho pela educação e pela cultura desse país.

Não é possível, em absoluto, imaginar uma literatura ausente dos problemas sociais e, para isso, é preciso contar com a participação dos jovens estudantes.

Como disse anteriormente, o estudante deve participar da leitura por meio daquele que é o fetiche, o objeto de desejo de todo jovem neste tempo tecnológico: o celular. E utilizando aspectos da música popular, sobretudo através de ritmos consagrados, como o slam, o hip-hop, além do samba, frevo e por aí afora.

Nossa proposta envolve, assim, a literatura, a dança e a música.

Raimundo Carrero

É escritor. Autor, entre outros, de Seria uma noite sombria Minha alma é irmã de Deus. 

Rascunho