🔓 Keith Jarrett no Blue Note

A temática gay sempre permeou a produção literária de Silviano Santiago. Nesta coletânea publicada pela primeira vez em 1996, o escritor mineiro reúne cinco contos eróticos abertamente gays
Keith Jarrett no Blue Note
Silviano Santiago
Companhia das Letras
106 págs.
01/05/2025

A temática gay sempre permeou a produção literária de Silviano Santiago. Nesta coletânea publicada pela primeira vez em 1996, o escritor mineiro reúne cinco contos eróticos abertamente gays — o que já havia feito nas histórias de O banquete, de 1970, quando ainda residia nos Estados Unidos, bem como naquele que talvez seja seu romance mais famoso, Stella Manhattan, de 1985. Em Keith Jarrett no Blue Note, cinco músicas de jazz nomeiam os cinco contos da obra. A estadia no estrangeiro, o sentimento amoroso e erótico, a dúvida existencial marcam a tonalidade variada das histórias. As folhas secas na calçada que ninguém se lembrou de recolher, a revista pornográfica, a comunicação interrompida, a angústia da voz do outro lado do telefone, a pessoa amada que morreu — notas de alguns contos deste livro, em que a vida no estrangeiro pulsa no desencontro, no desejo e na incerteza. Numa atmosfera intimista, as paixões homoafetivas de personagens envolvidos com as lembranças de experiências passadas desenham-se sutilmente. A solidão e os vínculos afetivos são submetidos ao arranjo jazzístico de Silviano Santiago para compor uma coletânea que mescla a quietude ao som em tempos variados. Guiado pelo piano de Keith Jarrett, Santiago evoca literalmente uma apresentação do famoso jazzista no clube nova-iorquino Blue Note. Numa cidade provinciana americana, em Ipanema ou Copacabana, os personagens vivem momentos importantes da vida amorosa, amoldando-se às linhas melódicas de clássicos da canção popular. “Que o leitor não se engane se pensa tratar-se este volume de uma reunião de contos sobre relacionamentos homoafetivos estrito senso. Nele não existem papéis sexuais muito definidos”, escreve Heloísa Teixeira sobre os contos de Santiago. “São improvisos que têm como leitmotiv uma permeável disponibilidade para o sexo. Assim como um meio espelho através do qual fossem refletidas construções recorrentes de um eu que dissesse você. Assim como no jazz se define o scat singing: a réplica vocal de um instrumento de sopro; a voz mimetizando um instrumento. Sem palavras.” Um dos autores mais celebrados da literatura brasileira contemporânea, Silviano Santiago tem uma obra extensa, que abarca uma grande gama de gêneros, como o ensaio acadêmico, o conto, o romance e a poesia. Paralelamente à carreira de escritor, construiu uma trajetória brilhante na academia, tendo estudado na França nos anos 1960 e engatado uma carreira de professor universitário nos Estados Unidos, onde atuou na Rutgers University, do estado de Nova Jérsei. Foi “Associate Professor with Tenure”, na State University of New York at Buffalo. Regressou ao Brasil, onde lecionou literatura brasileira e teoria literária na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) até 1980. Transferiu-se então para a Universidade Federal Fluminense, em Niterói, onde se aposentou como Professor Emérito. Nos últimos anos lançou romances instigantes, como Mil rosas roubadas, vencedor do Prêmio Oceanos, e Machado, que ganhou o Prêmio Jabuti. Em 2022, pelo conjunto de sua obra, recebeu o Prêmio Camões.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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