🔓 Sul-coreana Kim Hye-jin estreia no Brasil com romance sobre preconceito

Protagonista de “Sobre minha filha” é uma cuidadora de idosos cuja filha se assume lésbica e, sem emprego fixo, volta para a casa da mãe com a namorada
Kim Hye-jin, autora de “Sobre minha filha”
06/09/2022

A sul-coreana Kim Hye-jin ainda é pouco conhecida entre os leitores brasileiros. Nascida em 1983, ela estreou na literatura em 2012 com o romance Chicken Run, vencedor do prêmio Dong-A Ilbo’s Spring Literary. Agora a Fósforo lança Sobre minha filha, cuja protagonista é uma cuidadora de idosos.

Ela é considerada uma mulher exemplar aos olhos da sociedade. Viúva de um casamento dentro dos padrões, criou a filha para seguir as tradições — casar, formar uma família e desfrutar de uma casa própria e um bom salário — e não perturbar seus planos de aposentadoria sem sobressaltos. Mas tudo sai do eixo quando Green se assume lésbica e, sem emprego fixo ou renda para pagar o aluguel, volta para a casa da mãe com a namorada.

Envolta em culpa e arrependimentos, a mãe encara a situação de modo pouco generoso, inclusive consigo mesma. E a sua rotina também não é capaz de oferecer outro repertório que não o do julgamento e da rigidez, já que passa os dias em um ambiente de trabalho insalubre, entre farelos de bolinho na boca, pernas esqueléticas dos doentes, diarreia, brotoejas, fraldas, cheiro de urina, unhas mal cortadas etc.

Mesmo habituada ao sacrifício, essas imagens contrastam com a “comida aconchegante” que a namorada de Green prepara, o ambiente acadêmico que frequentam e a casa simples em que moram.

Mas até onde a filha realmente se distanciou do projeto de vida que a mãe sonhou pra ela? Enquanto Green luta contra a homofobia na universidade em que atua como professora horista, a mãe entra num embate contra os métodos desumanos de administração da clínica em que trabalha. Se o choque de gerações afasta, a partilha de certos valores une as duas.

Conhecida por retratar de forma compassiva o sofrimento silencioso dos oprimidos, Kim Hye-jin traça um panorama da classe média sul coreana e evidencia a falta de mobilidade social de uma sociedade que vê seus índices de pobreza aumentando a cada dia. Nela, viver com dignidade é em si só tarefa árdua, que exige que mãe e filha superem as diferenças e o ressentimento para acolher uma à outra.

Sobre minha filha
Kim Hye-jin
Trad.: Hyo Jeong Sung
Fósforo
144 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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