🔓 Publicado em episódios no século 19, romance “O mameluco” é lançado em livro

Escrita por Amélia Rodrigues, obra trata de debates raciais da época e mestiçagem no país, ecoando a questão da nacionalidade brasileira e a sua formação racial
Ilustração de Flávia Bomfim para a edição de “O mameluco”
24/06/2022

Publicado apenas em folhetim em 1882, O mameluco, romance de Amélia Rodrigues (1861-1926), ganha uma primeira edição em livro pela paraLeLo13S. Apresentado pela doutora em Literatura e Cultura Brasileira Milena Britto, que assina também um ensaio sobre a obra no mesmo volume, a narrativa é ambientada em uma fazenda do Recôncavo baiano.  O livro foi selecionado pelo Rumos Itaú Cultural.

O livro situa as discussões raciais da época e traz a mestiçagem brasileira para um debate aprofundado, além de jogar luz na violência que foi a Guerra do Paraguai, pano de fundo para o romance. A paraLeLo13S é um selo editorial da livraria Boto-cor-de-rosa, de Salvador.

Narrativa
Publicada em episódios no jornal Echo Sant’Amarense, um dos principais do Recôncavo baiano no século 19, que faz parte da lista das últimas regiões a abolir a mão de obra escrava, a obra se insere entre os marcos da literatura nacional daquele período.

Ecoa a questão da nacionalidade brasileira e a sua formação racial com um enredo que envolve um triângulo amoroso, senhores de terras, pessoas negras escravizadas, coronéis e o envio arbitrário de soldados e civis ao conflito brasileiro com o Paraguai, pouco abordado nos livros de história.

No ensaio Amélia Rodrigues e a escrita das mulheres do século 19, que fecha o livro, Milena Britto mostra como o romance se insere lado a lado a outros publicados no Brasil na época. Segundo a ensaísta, trata-se de um diálogo com o cânone literário brasileiro que oferece complexidade ao debate da formação da identidade nacional.

“Esta obra escrita por uma mulher brasileira de final de século é, também, um documento que evidencia as temáticas sobre as quais as mulheres se debruçaram e, como se nota, não trata apenas de temas romantizados ou religiosos”, afirma.

Para a composição de O Mameluco, agora em livro, o texto foi resgatado do último exemplar sobrevivente do ano de 1882 do periódico, arquivado no acervo da Biblioteca do Estado da Bahia. Esta edição vem acompanhada de ilustrações de Flávia Bomfim criadas exclusivamente para o romance.

A artista faz algumas releituras de imagens conhecidas da arte e cultura pop brasileiras e apresenta as personagens interpretando-as a partir da visão daquele momento, chamando atenção sobre os estereótipos também presentes na iconografia brasileira. O volume compõe a coleção Escritoras das Américas.

Trajetória
Amélia Rodrigues nasceu em Santo Amaro, em 1861. Atuou como escritora, poeta, jornalista, dramaturga e professora de grande importância na cena literária baiana e brasileira na sua época.

Ela se destacou pelas suas abordagens a diversos temas sociais e de gênero. Colaborou com diversas publicações, a exemplo da revista Paladina, creditada como a primeira revista inteiramente escrita por mulheres na Bahia. Suas obras incluem os livros Flores da Bíblia, Mestra e Mãe, as peças Fausta e A natividade, e o romance O mameluco.

O mameluco
Amélia Rodrigues
Apresentação e ensaio de Milena Britto
Ilustrações de Flávia Bomfim
paraLeLo13S
220 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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