🔓 Marguerite Duras rememora horrores da 2ª Guerra em “A dor”

Nova edição traz texto inédito sobre perda de um filho durante os anos de guerra e reprodução do caderno de manuscritos da autora
Marguerite Duras, autora de “A dor”
14/03/2023

Em meados dos anos 1980, Marguerite Duras encontra, nos armários de sua casa de campo, uma série de diários escritos na juventude. Nestas páginas, tomadas por uma letra miúda e rasuras, ela descreve a angústia vivida durante a Segunda Guerra Mundial, diante da França ocupada e da espera dilacerante pelo retorno de seu marido, Robert Antelme, preso e enviado para um campo de concentração na Alemanha.

O testemunho e a emoção dos acontecimentos vividos fazem compõem A dor, considerada pela Marguerite Duras uma de suas obras mais importantes.

Essa edição da Bazar do Tempo traz um texto inédito que Duras escreveu para a revista Sorcières, em 1976, e publicado também em Outside, em 1981. Trata-se do relato da perda de um filho, que ela não pôde nem segurar nos braços, depois do parto.

Duras atribui a morte da criança à guerra, e não a causas naturais. O texto se chama Les femmes vivente e foi traduzido pela autora do posfácio, Laura Mascaro, que dedicou sua tese de doutorado ao livro A dor.

Entre a memória e a literatura, Duras desenha todo o contexto em que circulam pelas ruas de Paris membros da polícia nazista, uma elite francesa colaboracionista, milicianos e resistentes — personagens reais da história, como ela, que busca notícias do marido em almoços com um membro da Gestapo e participa da sessão de tortura de um delator ao lado dos companheiros da Resistência.

A obra brasileira reproduz a capa e seis páginas manuscritas do Cahier de 100 pages [Caderno de 100 páginas], diário onde Duras anotou os eventos que deram origem ao livro A dor.

Duras nasceu em 1914, na Indochina, atual Vietnã, onde passou toda a infância. Filha de pais franceses, mudou-se em 1932 para Paris, aos 18 anos, para seguir seus estudos. Durante a Segunda Guerra, junto com o seu primeiro marido, Robert Antelme, integrou- se à Resistência francesa.

Em 1943, lançou seu primeiro livro, Les impudents, dando início a uma vasta produção, que inclui romances, teatro e roteiros para o cinema. Em 1984, recebeu o prêmio Goncourt por O amante, um de seus livros de maior sucesso. No ano seguinte, lançou A dor, obra adaptada para o cinema em 2018. Duras morreu em Paris, em 1996.

A dor
Marguerite Duras
Trad.: Luciene Guimarães de Oliveira e Tatiane França
208 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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