(20/11/20)
O Tradicionalismo é tema de dois novos livros que chegam agora ao mercado. Contra o mundo moderno — o Tradicionalismo e a história intelectual secreta do século XX, do historiador Mark Sedgwick, traz um estudo sistemático, iniciado em 1996, no qual o autor divide com o leitor suas descobertas e questionamentos sobre o assunto.
O livro também pode ser lido como uma biografia do francês René Guénon, o principal nome desse movimento, e de outros que seguiram sua linha de pensamento. Guénon rejeitou a modernidade, considerada por ele uma era de trevas, e buscou reconstruir a Filosofia Perene — as verdades religiosas centrais por trás de todas as grandes religiões —, baseando-se sobretudo em sua leitura dos textos religiosos hindus.
Abrangendo uma sĂ©rie de grupos religiosos no Ocidente e no mundo islâmico, vários deles secretos, e, por vezes, muito influentes, o Tradicionalismo teve impacto na polĂtica partidária e em movimentos radicais na Europa, bem como no desenvolvimento da disciplina dos estudos religiosos nos Estados Unidos.
Já Guerra pela eternidade — O retorno do Tradicionalismo e a ascensĂŁo da direita populista, de Benjamin R. Teitelbaum, descreve como o Tradicionalismo reverbera hoje na polĂtica de vários paĂses. A obra expõe o pensamento do movimento tradicionalista, uma das facetas mais conservadoras da extrema direita mundial, por meio de uma sĂ©rie de entrevistas com seguidores da doutrina, como Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Alexandr Dugin.
Teitelbaum é etnógrafo, doutor pela Universidade de Brown e professor de Etnomusicologia e de Relações Internacionais na Universidade do Colorado. Ele realizou as entrevistas entre 2018 e 2019, lançando o livro no começo de 2020. O livro se tornou best-seller nos Estados Unidos.
A obra traça conexões entre os adeptos do Tradicionalismo, a fim de revelar como esse pensamento tem influenciado a polĂtica de diversos paĂses, dando destaque aos EUA, Brasil e RĂşssia.
Além disso, apresenta os fundamentos desse movimento: o desprezo pela modernidade (que pode ser representada tanto pela China, segundo Bannon, quanto pelos EUA, segundo Dugin), a busca por uma religiosidade que teria se perdido ao dar espaço para a liberdade de expressão, a rejeição à democracia secular e à igualdade econômica.
Tradicionalistas acreditam em hierarquia e, portanto, recusam a homogeneidade das sociedades de massa e a busca pela igualdade social. Acreditam na necessidade de retroceder ao mundo anterior à modernidade e de retomar valores que se teriam perdido, como a superioridade do norte em relação ao sul, dos homens sobre as mulheres, dos brancos sobre os negros.