🔓 IMS publica ebook gratuito do roteiro de “Cabra marcado para morrer”

Organizado e comentado pelo crítico Carlos Alberto Mattos, “O primeiro cabra” traz o texto original do clássico documentário de Eduardo Coutinho
Cena do filme Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho
18/10/2022

Um dos principais filmes do diretor Eduardo Coutinho, Cabra marcado para morrer tornou-se um clássico do cinema brasileiro. O Instituto Moreira Salles disponibiliza agora ao público gratuitamente o roteiro do projeto original do filme, feito em 1964, com o título O primeiro cabra.

A publicação, já está disponível, em formato ebook, no site do Instituto Moreira Salles. Organizado e comentado pelo crítico e pesquisador Carlos Alberto Mattos, o roteiro foi digitalizado a partir de uma fotocópia do datiloscrito original, que sobreviveu à passagem do tempo entre os guardados de Coutinho.

O roteiro original do filme integra o acervo de Coutinho, que, desde 2019, está sob a guarda do IMS. São mais de 1200 itens, entre cadernos com anotações, decupagens de filmes, roteiros de projetos que nunca saíram do papel, objetos, correspondência e fotografias que ajudam a entender como o diretor concebeu e construiu sua obra ao longo de sua carreira.

Junto ao roteiro original, a publicação, lançada em versão digital pelo IMS, traz um ensaio do organizador Carlos Alberto Mattos, imagens históricas das filmagens e dos seus protagonistas, além de um breve histórico do projeto. Na parte do roteiro original, junto ao texto datilografado à máquina, o público encontra anotações feitas à mão por Coutinho, com sua letra tão característica e quase indecifrável.

O filme
Cabra marcado para morrer começou a ser rodado por Coutinho em 1964. A ideia original era realizar uma reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato do líder camponês paraibano João Pedro Teixeira.

No filme, os camponeses interpretavam suas próprias vidas, num recurso similar ao utilizado pelo neorrealismo italiano. Tratava-se de um projeto do Centro de Cultura Popular da UNE, com verba do Ministério da Educação e apoio logístico do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP), criado em 1960, na primeira gestão de Miguel Arraes na prefeitura do Recife.

No entanto, com o golpe civil-militar de 31 de março, as forças militares cercaram a locação no engenho Galileia, em Pernambuco, e paralisaram as filmagens. Dezessete anos depois, em 1981, Coutinho retomou o projeto e procurou Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro, e outros participantes do filme interrompido.

O tema central passou a ser a história de cada um deles que, estimulados pela filmagem e revendo as imagens do passado, elaboram para a câmera os sentidos de suas experiências. Lançado em 1984, o filme se tornou um clássico do documentário brasileiro, unindo as memórias de momentos distintos da história do país.

O ebook agora disponível no site do IMS apresenta o roteiro do que seria o filme se concluído na década de 1960. Calcula-se que cerca de 40% do texto chegou a ser filmado. O material passou alguns anos guardado na garagem do pai do cineasta David Neves, um general do Exército. Mais tarde, os copiões foram depositados na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro sob o título-disfarce de Rosa do Campo. Em 1981, foram retomados para as filmagens definitivas de Cabra marcado para morrer.

A publicação do roteiro original permite analisar as diferenças entre o projeto inicial e o resultado final do filme. Segundo Carlos Alberto Mattos, o acesso ao material possibilita “um exame mais detido das intenções esboçadas e do modelo narrativo adotado no filme interrompido pelo golpe civil-militar. Da mesma forma, à luz do roteiro e do que chegou a ser filmado, é possível também analisar o uso que se fez daquele material na montagem final do filme, na década de 1980. Para isso, resumimos um pequeno histórico do projeto, desde o engajamento de Coutinho na UNE Volante, em 1962, até a montagem final realizada por Eduardo Escorel entre 1981 e 1983.”

O primeiro cabra
Eduardo Coutinho
Org.: Carlos Alberto Mattos
IMS
93 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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