Poemas de Luiza Cantanhêde

Leia os poemas "Intermezzo", "Hoje não" e "Anamnese"
Luiza Cantanhêde, autora de “Palafitas, Amanhã, serei uma flor insana”
01/09/2021

Intermezzo

Não é apenas
Sobre meus pedaços
Jogados por aí
Não é sobre
O desespero
Dos famintos
Os disparos
O menino preto
Fugindo da polícia
Não é sobre a democracia
Rude e mal vestida
Meus irmãos cegos
Refletindo a dor
Não é sobre o antilirismo
A secura das manhãs
A morte do amor
É muito mais sobre
Esse bicho triste
Dentro de mim
Flertando com a aurora.

Hoje não

O que conheço
Anda descalço
Se descendo
Ou não de macacos

Se ainda serei
Catedrático
Se a bolsa
de valores
Quebrou
Se a população
Cresceu

Para que serve
A etimologia
Da nano tecnologia?

Solidão
Rima com prato
De feijão

Mas hoje não.

Anamnese

O que pernoita
Em mim
É quase nada
Apenas chão
E memória

Perdi os manuscritos
E já é tarde para saber
Das rezas e das fugas

O etéreo visitante
Deste momento
É apenas a fagulha
Do ferro em brasa
De minha mãe
A engomar
Nossa fome.

Luiza Cantanhêde

Nasceu em Santa Inês (MA). É membro da Academia Piauiense de Poesia; da Associação de jornalistas e escritoras do Brasil (MA); da Academia Poética Brasileira; da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão. Publicou Palafitas, Amanhã, serei uma flor insana e Pequeno ensaio amoroso.

Rascunho