Poemas de Gabriela Sobral

Leia os poemas "Agricultura em areia", "Terno púrpura", "Acapu-pau-amarelo" e "Notas sem revisão"
Gabriela Sobral, autora de “Caranguejo”
01/08/2021

Agricultura em areia

Informo que catorze borboletas
e cinco mil aranhinhas autorizaram
que nos amássemos ao redor.
Minhas partes cresceram em linhas inteiras.

Tornei-me um tubérculo, como sempre quis:
os fios em repouso gentil
cabeça funda, ao limite,
observando a lavagem da terra.
É inútil diferenciar escritores de residência estéril
dos reais argentinos.

Do meu posto, de cabeça de tubérculo,
fico com os últimos.

Terno púrpura

Nasço
de um relato sem importância
sobre retratos
de coloração roxa.
Né nada né nada
nasço berrante.

Acapu-pau-amarelo

Numa decisão química
fiz nosso apagamento.
Eu não preciso mais completar tuas frases
resolver histórias soltas e repetidas
ordenando-as
para que no final do dia
tenhas um esquema gigante
de como ensinar ao mundo a gravidade das simpatias.

Não mais é possível rogar por teus objetos inúteis
como uma santa a quem se recorre.
Serás, agora, a filha perdida.
Só enxergarás uma cadeira sem frente
e quando tiveres sorte
será possível, estando um pouco de lado,
olhar uma senhora de pau e pedra,
assentindo
que ainda és
reconhecível.

Notas sem revisão

O equador corta a linha da minha mão
meu corpo é apagado pela história do velho mundo.
Explicar meu nascimento faz parte desse mesmo texto.

Gabriela Sobral

Tem 30 anos, é paraense e mestra em Preservação do Patrimônio Cultural. Realizou diversos projetos criação e difusão literária, entre eles, Memorial Maria Lúcia Medeiros. Lançou, em 2017, seu primeiro livro de poemas, Caranguejo. Em 2020, foi premiada pelo edital Arte Como Respiro — Literatura, do Instituto Itaú Cultural.

Rascunho