Poemas de Carlos Orfeu

Leia os poemas "as coisas amadurecem seus nomes", "objeto" e "poça de água"
Carlos Orfeu, autor de “Nervura”
01/09/2021

as coisas amadurecem seus nomes

as coisas amadurecem seus nomes
trocam de pele: tocam nossos olhos
atentos ao movimento mínimo do
mundo desde a raiz selvagem crescendo
por dentro da potência até as roupas
no varal que respondem ao vento
com seus vazios como velas de um barco
no mar: perceber esse mínimo mundo
é encontrar em cada ser contemplado
com o silêncio a pulsão que nutre o
olho e o humano parte da micro-
matéria

objeto

entranhar
no objeto

reter dele
não a imagem
a cor — o peso
irregular

mas o tempo
a dúbia face
do mesmo
testemunho

no claro-
escuro
da solidão

poça de água

na poça de água
o cílio perdido

é um micro-
barco

cort-
ando

ao meio
o diálogo

entre o prédio
e o velho poste

-mastigando-

o que resta
de luz

Carlos Orfeu

Nasceu em Queimados, Baixada Fluminense (RJ). Estreou na poesia em 2019 com o livro Nervura. Em 2020, publicou invisíveis cotidianos. Lançou, este ano, a plaquete ramagem pulmonar.

Rascunho