Poemas de Norma Etcheverry

Leia os poemas traduzidos "Os trens", "O poema deveria ser algo que se planta", "Insectos I", "Caminhamos", "Sinais"
Ilustração: Carolina Vigna
02/07/2014

Tradução: Ronaldo Cagiano

LOS TRENES
Cada mediodía, se detienen con el niño cerca del cruce de los trenes para verlos pasar. Son fabulosos. Los trenes. El sol dando de lleno sobre el hierro oscuro del viejo puente.

Un chirriar obsceno parte el aire, a la hora de la siesta.
El oscuro animal de humo atravesaba las noches de mi infancia,
llevando y trayendo rostros que nunca pude nombrar, países lejanos, lugares exóticos, mujeres hermosas y hombres con miradas de fuego.

OS TRENS
A cada meio-dia, se detêm com o menino perto do cruzamento do trens para vê-los passar.
São fabulosos. Os trens. O sol batendo pleno sobre o ferro escuro da velha ponte.
Um chiado obsceno vem do ar, na hora da sesta.
O escuro animal de fumaça atravessa as noites de minha infância, levando e trazendo rostos que nunca pude nomear, países distantes, lugares exóticos, mulheres bonitas e homens com olhares de fogo. 

EL POEMA DEBIERA SER ALGO QUE SE PLANTA
El poema no es algo que se construye
sino algo que se planta.
Miguel Torga

El poema debiera ser algo que se planta
como un arbusto
un seto un manzano

que se riegue sin saber lo que se arriesga
lo que deja en el fondo
o lo que sale a la luz
sólo debiera dar cuenta de nuestra pequeñez
en la tierra
de nuestra imperceptible sombra
y nuestra nada en el tiempo
o mejor aún de nuestra máxima aspiración: que un pájaro o un niño
se pose alguna vez
sobre sus ramas.

O POEMA DEVERIA SER ALGO QUE SE PLANTA
O poema não é algo que se constrói
mas algo que se planta.
Miguel Torga

O poema deveria ser algo que se planta
como um arbusto
uma sebe  uma macieira
que é irrigada sem saber os riscos
O que fica em segundo plano
o que vem à luz
somente deveria dar conta da nossa pequenez
sobre a terra
da nossa imperceptível sombra
e nosso nada no tempo
o melhor ainda de nossa máxima aspiração: que um pássaro ou uma criança
pouse alguma vez
em seus ramos. 

…..

INSECTOS I
Los pequeños insectos danzan en círculo

se estrellan unos con otros cegados por la luz
que artificialmente
dibuja sus prematuras sombras.
Breves sus vidas se encandilan
en un giro tras otro
inútilmente.

Así los hombres
por demasiada lucidez o demasiada levedad
sucumben.

INSECTOS II
Entonces cae la noche

y no somos más que sombras chinescas
sobre el mundo
cementerio de nada
flores quietas
bajo el golpe efímero del agua
Cada mañana como las mariposas
insectos de luz
volvemos a creer en la mundana concupiscencia
de los días.

INSETOS I
Os pequenos insetos dançam em círculo
colidem uns com os outros cegados pela luz
que artificialmente
desenha suas prematuras sombras.
Suas breves vidas se deslumbram
num giro após o outro
inutilmente.
Assim os homens
por demasiada lucidez ou demasiada leveza
sucumbem.

INSETOS II
Então cai a noite
e não somos mais que sombras chinesas
sobre o mundo
cemitério de nada
flores quietas
sob o golpe efêmero da água
Cada manhã, como as borboletas
insetos de luz
voltamos a crer na mundana concupiscência
dos dias.

…..

ANDAMOS
por las calles de la ciudad

y nos emborrachamos
y salimos a buscar cuerpos adonde perdernos
de lo que más amamos

donde extraviar la última posibilidad
de ser cotidiana  y remotamente feliz.

CAMINHAMOS
pelas ruas da cidade
e nos embebedamos
e saímos para buscar corpos onde perdemos
o que mais amamos.

onde extraviar a última possibilidade
de ser quotidiana e remotamente feliz.

…..

SEÑALES
una palabra invertebrada me delata

cuando el pulso de la casa
se arrastra hacia la luz

debo extraer su sangre su sentido
antes de que resbale hacia la nada

buscar indicios en el mapa
desenterrar los dones
que la salven del vértigo
del caos
hacer un camino real
asumir el riesgo de escarbar la tierra
mientras el ave de bello plumaje se pierde en la espesura.

SINAIS
uma palavra invertebrada me denuncia
quando o pulso da casa
se arrasta até a luz

devo extrair seu sangue seu sentido
antes que escorra até o nada

buscar vestígios no mapa
desenterrar os dons
que as salvem da vertigem
do caos
fazer um caminho real
assumir o risco de escavar a terra
enquanto a ave de bela plumagem se perde na espessura.

Ronaldo Cagiano

Nasceu em Cataguases (MG). Formado em Direito, está atualmente radicado em Portugal. É autor de Eles não moram mais aqui (Contos, Prêmio Jabuti 2016), O mundo sem explicação (Poesia, Lisboa, 2018), Todos os desertos: e depois? (Contos, 2018) e Cartografia do abismo (Poesia, 2020), entre outros.

Rascunho