Cartas #outubro_18

A opinião, comentários e sugestões dos nossos fiéis leitores
Arte da capa: Vermelho Panda Design
01/10/2018

Viva Ulisses
Sinto-me no dever de defender a obra-prima de James Joyce. Com o ensaio que publicou na edição 217 deste bom Rascunho, o pernambucano Homero Fonseca depreciou levianamente o livro de Joyce, desestimulou sua leitura e, para dizer o mínimo, foi injusto com o autor. Com sua cartinha na edição 220 informando que utilizou um exemplar como calço “para a estante de literatura brasileira”, o carioca Carlos Almeida foi simplesmente ridículo. Um e outro poderiam se juntar a Paulo Coelho, que foi, a um só tempo, injusto e ridículo, ao declarar o seguinte: “Um dos livros que fez mal à humanidade foi Ulisses, que é só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca Ulisses, dá um tuite”. Pensando bem, eu poderia aqui ter me limitado a citar Lichtenberg, e perguntado: “Se uma cabeça e um livro se chocarem, dando um som oco, será sempre por causa do livro?”.
Geraldo Teixeira • via e-mail

Ainda o Amado
Rodrigo Gurgel tem um baita conhecimento de literatura, os diversos livros por ele escrito, as inúmeras resenhas publicadas, que muito nos enriqueceram, deixam isso claro. Agora o que ele escreveu sobre o Jorge Amado, acredito, foi só para “causar” polêmica, e aumentar as vendas, do nosso querido e combalido, Rascunho.
Milton Gurgel Filho • São Paulo – SP

Orígenes Lessa
Realmente trata-se de uma novela e não de um romance, mas discordo da análise de Rodrigo Gurgel sobre O feijão e o sonho (1938) de Orígenes Lessa (Rascunho #216). A história se passa durante a República Velha — por várias referências a personalidades da época (Joaquim Nabuco e Olavo Bilac) e menção à “guerra no outro mundo” (1914-1918) — com crítica aos políticos (capítulo 36) e ao governo, manifestando o desejo de revolução (capítulo 13). O narrador-onisciente aprofunda a personalidade do personagem principal (capítulos 10 e 11), assim como as conversas de Campos Lara com Chico Matraca (capítulo 9) e com o Oficial (capítulos 14 a 16). Ao longo do livro, o embate dialético entre realismo e idealismo serve para síntese do narrador-onisciente (capítulos 48 e 49). A tensa relação de Campos Lara com a esposa Maria Rosa provoca tanto a devolução da estatueta de marfim (capítulo 8) como a permanência do relógio de parede (capítulos 23 e 24). A calorosa chegada de Campos Lara a Capinzal (capítulo 35) contrasta com o conflito que provoca sua partida (capítulo 43). A rivalidade das primas Creusa e Maria Rosa mostra o contraste entre os casamentos e suas consequências. Campos Lara, como pai amoroso com os filhos recém-nascidos, é o mesmo que depois fica distante deles para refletir, querer pensar e escrever em isolamento. Há claro contraste também entre capital (São Paulo) e interior (Capinzal), entre urbano e rural, entre trabalho burocrático e trabalho intelectual, entre analfabetismo e erudição, entre escola pública e escola privada, assim como entre a ideia de trabalho (arrumar emprego) e de educação (formação regular). Não há incompletude no final (capítulos 50 e 51), pois ele é aberto e não excludente entre as duas opções. Tanto a Geração de 1930 como a Geração de 1945 mostraram que se podia viver o feijão (emprego público) e o sonho (literatura).
Luiz Roberto da Costa Jr. • Campina

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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