“O sucesso pode destruir um escritor”

O espanhol Javier Cercas acaba de publicar no Brasil o romance policial "Terra Alta", vencedor do Prêmio Planeta, um dos mais prestigiosos da Europa
27/10/2021

A frase que dá título a esta entrevista não é mera retórica ou simples piscadela ao leitor. O espanhol Javier Cercas viveu “na pele” o que afirma nesta conversa com o Rascunho.

Depois de lançar o romance Soldados de Salamina, em 2001, livro que foi adaptado ao cinema dois anos mais tarde, Cercas virou um best-seller mundial. E aí provou dos sabores e dissabores que a fama proporciona a um escritor até então sem tanta exposição fora de seu país.

“Senti que o sucesso estava me esmagando”, diz. “Acho que é algo bastante comum, o que explica em parte alguns silêncios clamorosos, como o de Salinger ou o de Juan Rulfo (ou o fim de David Foster Wallace).”

Depois que a poeira baixou e Cercas retomou o foco na escrita, sua resposta ao medo de não conseguir mais escrever veio com A velocidade da luz, um livro sobre “um escritor muito semelhante a mim que foi completamente destruído pelo sucesso”, diz.

Mas o sucesso voltou a bater à porta do espanhol de 59 anos. Seu mais recente trabalho, Terra Alta, ganhou o Prêmio Planeta, uma das principais honrarias literárias da Europa, cujo valor é de 600 mil euros (ou quase R$ 4 milhões).

Javier Cercas se inspirou no policial anônimo que pôs fim à vida de quatro terroristas islâmicos responsáveis por um ataque à cidade de Barcelona em 2017 para criar o personagem Melchor Marín, protagonista do romance.

No livro, o policial deixa um passado difícil para trás e passa a viver em Terra Alta, um pequeno vilarejo empobrecido e conservador no sul da Catalunha.

Lenda entre os colegas da corporação, Melchor foi transferido para o interior com o objetivo de se proteger de uma possível vingança da célula terrorista que ele ajudou a derrubar. Na vila, Melchor se apaixona por uma bibliotecária e tem uma filha chamada Collete — como a de Jean Valjean, o protagonista de seu romance favorito, Os miseráveis, de Victor Hugo.

Cercas faz uma composição extremamente competente entre os labirintos de um romance policial e a profundidade dos grandes dramas psicológicos, em um livro arrebatador.

Além de revelar detalhes da escrita de Terra Alta, a seguir o autor comenta assuntos tão díspares (ou nem tanto) quanto Prêmio Nobel, sexo e política.

• Terra Alta é um romance policial de múltiplas possibilidades de leitura. Há o crime, mas também uma história social cativante do personagem principal, Melchor, e a política como pano de fundo, com os atentados à Catalunha em 2017. Você considera o romance policial um gênero aberto?
Claro: com o romance policial você pode fazer o que quiser. Surpreendentemente, ainda há quem pense — principalmente os críticos — que se trata de um gênero menor. Aqueles que pensam assim simplesmente não sabem o que é literatura. Porque na literatura não existem gêneros maiores ou menores, mas formas maiores ou menores — melhores ou piores — de usar os gêneros. Tragédia, um gênero muito antigo, o gênero favorito de Aristóteles, foi escrito por Sófocles, Shakespeare e outros grandes escritores, mas também por muitos outros medíocres. O mesmo acontece com o gênero policial, que é um gênero muito mais recente: Edgar Allan Poe, que o inventou, Borges, Chandler, Sciascia ou Simenon escreveram histórias de detetive, mas também escritores desinteressantes o fizeram. Em última análise, existem apenas dois tipos de livros: bons e ruins. O resto é verborragia. Na realidade, Borges disse que todos os romances são romances policiais, e posso pelo menos dizer que todos os romances de que gosto o são — de Dom Quixote até aqui —, e claro que todos os meus livros também são assim, pelo menos no sentido de que em todos há um enigma e alguém que tenta decifrá-lo: afinal, essa é a essência da história de detetive. É verdade que em Terra Alta o protagonista é um policial e que na primeira página há um crime que ele deve solucionar, mas não é menos verdade que não me propus a escrever um romance policial; a única coisa que me propus é o que sempre proponho: escrever o melhor romance possível.

• Você disse que Melchor foi inspirado em um policial real que matou terroristas nos atentados de 2017. Mas ele tem muitas “camadas”, é um ex-delinquente recuperado que encontrou em Os miseráveis, de Victor Hugo, um novo sentido para sua vida. Como a essência de Melchor lhe surgiu?
Um dia, enquanto caminhava pela rua, me ocorreram duas frases que agora são as duas primeiras frases do segundo capítulo, mas que na verdade são as duas primeiras frases do livro, porque são as primeiras que escrevi. Eles dizem assim: “Seu nome era Melchor porque a primeira vez que sua mãe o viu, recém-saído do ventre e pingando sangue, ela exclamou entre soluços de alegria que ele parecia um rei mago. O nome da mãe dele era Rosário e ela era uma puta”. Nessas duas primeiras frases está contido todo o embrião do livro: Há o “sangue” (ou seja, a violência), os “soluços” (ou seja, o sofrimento), o “júbilo” (ou seja, a alegria), a “prostituta” (ou seja, sexo), etc. Mas, além daquelas duas frases, que são escritas em uma terceira pessoa fria, distante e flaubertiana, ouvi uma música verbal que nunca tinha ouvido antes nos meus livros, a maioria dos quais escritos na primeira pessoa, e também em uma primeira pessoa muito próxima a mim. Foi assim que tudo começou, e também com o personagem Melchor: imediatamente imaginei um jovem violento e moreno, cheio de fúria, dor e desejo de vingança, e comecei a descobrir quem ele era e por que era do jeito que era. Escrevi o romance para isto: para descobrir. Em relação aos ataques terroristas, a certa altura, enquanto eu estava escrevendo o livro e quando já havia entendido que Melchor era um policial, percebi que só ele poderia ter feito o que aquele policial anônimo fez, que em poucos segundos matou quatro jihadistas na orla de Cambrils, em agosto de 2017. E, exatamente porque aquele policial era anônimo, porque sua identidade foi retida por óbvios motivos de segurança, poderia atribuir isso a Melchor.

“Quanto ao segredo de um bom romance policial, parece-me que é exatamente o mesmo de qualquer bom romance: oferecer uma visão tão verdadeira e complexa quanto possível da realidade humana.”

• Qual é o grande segredo de um bom romance policial? Você é um leitor do gênero?
Particularmente, não. Pelo menos não como Borges foi, por exemplo. Conheço os clássicos, conheço a história do gênero, escrevi um livro sobre um autor espanhol (Gonzalo Suárez, romancista e cineasta) que aproveitou as fontes do gênero para construir seus romances e há alguns autores contemporâneos de romances policiais que eu gosto, como Don Winslow. Mas não me considero um leitor de romances policiais. Me considero um leitor, em particular um leitor de romances, e alguns dos bons livros que leio são ou são considerados romances policiais. Gosto de boa literatura e não me importo se é policial ou não. Quanto ao segredo de um bom romance policial, parece-me que é exatamente o mesmo de qualquer bom romance: oferecer uma visão tão verdadeira e complexa quanto possível da realidade humana, proporcionando ao leitor prazer e conhecimento.

• Seus livros trazem sempre muitas referências a escritores e livros. A literatura é, entre as artes, a que mais se alimenta dela mesma?
Não sei, acho que não. O que sei é que a literatura sempre consiste em um diálogo com a própria literatura (o mesmo acontece, acho, com o cinema ou com a música). Esse diálogo pode ser explícito ou implícito, mas não há literatura real sem ele. Por outro lado, para mim a literatura não está separada da realidade, não é algo estranho a ela; pelo contrário: faz parte da realidade. Quem está lendo um bom livro não está fora da realidade; está mais dentro dela do que quem não está lendo. Porque ler é uma forma de viver mais, de forma mais rica, complexa e intensa. Por isso, suponho, as referências a escritores e livros em meus romances, que em todo caso não estão ali como tributos ou piscadelas para o leitor, mas simplesmente porque o livro precisa delas — ou pelo menos eu acredito que necessita.

• Faulkner disse que escreveu O som e a fúria para se livrar de um sonho que o perseguia. Como surgem suas histórias? E Terra Alta, como lhe ocorreu?
Meus romances muitas vezes surgem de obsessões, como as de Faulkner (que significava, acredito, livrar-se de um sonho perturbador), ou seja, de perguntas que me coloco sobre coisas que não entendo, e que se tornam uma obsessão. É por isso que acredito que uma das primeiras obrigações de um escritor é ser fiel às suas próprias obsessões: se algo realmente te obceca, por mais absurdo ou insignificante que possa parecer à primeira vista, com certeza há algo importante aí para você; escrever consiste em descobrir o que é essa obsessão e, portanto, livrar-se dela. Outras vezes, meus romances surgem de uma pergunta: “E se…?”. Isso também me parece comum entre os romancistas. Imagino Cervantes se levantando em uma manhã e se perguntando: “E se em vez de ser quem eu sou — um velho escritor fracassado que quando jovem foi um soldado na Itália e depois um prisioneiro em Sevilha —, eu tivesse passado minha vida trancado em uma cidade de La Mancha lendo romances de cavalaria?”. Imagino que uma pergunta como essa esteja na origem de Dom Quixote e, claro, uma pergunta semelhante está na de Terra Alta.

• Depois do sucesso mundial de Soldados de Salamina, você disse que temia não conseguir mais escrever. Por quê? Por conta das demandas extraliterárias ou pelo medo de não conseguir realizar um novo sucesso?
Porque senti que o sucesso estava me esmagando. Acho que é algo bastante comum, o que explica em parte alguns silêncios clamorosos, como o de Salinger ou o de Juan Rulfo (ou o fim de David Foster Wallace). O sucesso pode destruir um escritor, especialmente um escritor com tão pouca experiência no mundo literário como eu tinha quando publiquei Soldados… Minha resposta a essa situação foi escrever um livro sobre um escritor muito semelhante a mim, completamente destruído pelo sucesso, ou quase na totalidade: A velocidade da luz, e é uma espécie de exorcismo e também um exercício de sobrevivência. É o livro mais triste que já escrevi e um dos favoritos de alguns leitores. Se ainda estou escrevendo, devo isso a esse livro.

• Soldados de Salamina traz alguns personagens reais, entre eles você mesmo e o chileno Roberto Bolaño. O quanto seus livros se baseiam em sua experiência pessoal?
Aqui está um grande mal-entendido. A ficção pura não existe e, se existisse, não teria nenhum interesse ou seria simplesmente ininteligível. A ficção pura é uma invenção daqueles que não sabem o que é ficção; a ficção sempre parte da realidade, que é seu combustível, e constitui uma transfiguração da realidade que dá um sentido universal ao particular. Isso é ficção. Há quem pense que inventei o recurso de misturar realidade com ficção e personagens históricos com inventados. Também há quem me pergunte — especialmente os jornalistas — se isso é lícito. A resposta é simples: no jornalismo ou na História não é, mas a ficção não tem feito outra coisa desde que existe: ainda hoje não sabemos o que é verdade e o que é ficção ou lenda nas obras de Homero e, claro, de Dante, Cervantes ou Shakespeare, que introduziram inúmeros personagens reais em suas ficções (a começar pelos próprios autores). Claro, tento fazer o que eles fizeram de uma forma diferente, se possível original, seja lá o que isso signifique. Mas o que faço não é essencialmente diferente do que eles fizeram, do que sempre foi feito. Resumindo: a literatura sempre parte da própria experiência.

• A guerra está presente em algumas de suas histórias, como em A velocidade da luz e Soldados de Salamina. Por que o assunto lhe atrai como escritor?
Pela mesma razão que atrai os seres humanos desde que o mundo é mundo, suponho: afinal, a guerra é o primeiro ou um dos primeiros temas da literatura, e provavelmente será o último. Por quê? Talvez porque a guerra coloque uma espécie de lupa sobre o ser humano, para que vejamos neles, de forma hiperbólica — e portanto, com muita clareza — o melhor e o pior que eles têm, e também o vemos em toda a sua complexidade. De resto, o que reaparece continuamente nos meus romances, de formas diferentes, é a guerra civil, que foi para os espanhóis o que foi a Segunda Guerra Mundial para o resto dos europeus (aliás, a guerra civil pode ser vista como o prólogo ou o primeiro ato da Segunda Guerra Mundial, que em muitos países também foi uma guerra civil). E a razão pela qual volto a esse assunto é, além do fascínio pela guerra, o fato de que sem guerra civil nada ou quase nada do presente se explica, ou seja, o fato de que, na Espanha, a guerra civil não é passado, mas o início do presente: entendo por presente algo que engloba também o passado — especialmente aquele passado de que ainda há memória e testemunhos, que é aquele que aparece nos meus livros —, porque, nos meus romances — e também na realidade —, o passado não passou completamente, sendo uma dimensão do presente sem a qual o presente se mutila.

Javier Cercas, autor de “Terra Alta”

“A literatura não está separada da realidade, não é algo estranho a ela; pelo contrário: faz parte da realidade. Quem está lendo um bom livro não está fora da realidade; está mais dentro dela do que quem não está lendo. Porque ler é uma forma de viver mais, de forma mais rica, complexa e intensa.”

• No Brasil vivemos uma situação que beira o surreal, com a pandemia e os problemas que dela decorrem sendo agravados por ideias sem nexo do presidente da República e seus apoiadores. Aqui, diz-se que está difícil para os escritores concorrerem com a realidade. É um período difícil para um escritor?
Não acredito que seja mais difícil para um escritor do que para qualquer outra pessoa. Um verdadeiro escritor escreve em qualquer circunstância e em qualquer lugar. Além disso, é bem possível que as circunstâncias difíceis sejam mais produtivas para um escritor do que as fáceis, porque o que é ruim para a vida geralmente é bom para a literatura, e o que é bom para a literatura muitas vezes é ruim para a vida. Quer dizer que, num mundo feliz, a literatura não existiria, pelo menos o romance não existiria (poesia talvez: pouco e muito ruim): os escritores se alimentam do mau, não do bom, nossa matéria-prima são crises, dores, injustiças, etc. Nesse sentido, somos como catadores, no melhor dos casos como aspiravam os alquimistas, que queriam transformar o ferro em ouro: os melhores escritores transformam injustiças, dores e crises em beleza e sentido. E por isso, entre outras razões, contra o que eu acreditava quando era jovem, feliz e sem documentos — como diria García Márquez —, querendo ser um escritor pós-moderno — se possível um escritor pós-moderno norte-americano —, agora acredito que literatura é útil… Enquanto não se propõe a ser útil, claro: se o fizer, torna-se propaganda ou pedagogia, e deixa de ser literatura. E deixa de ser útil.

• Como foi seu período pandêmico? Acha que haverá uma grande onda de livros de ficção sobre esse assunto?
Temo que sim. E digo que estou com medo porque, embora a pandemia seja um excelente combustível para a criação — como todas as crises —, não acho que seja um bom assunto. A prova é que nunca o foi: quase não conheço grandes livros que tenham como tema as pandemias, as inúmeras pandemias que sofreram os seres humanos e contra as quais ingenuamente acreditávamos que a ciência e a tecnologia nos tinham protegido. Pense, por exemplo, na chamada “gripe espanhola”. Matou mais de 50 milhões de pessoas, muito mais do que as vítimas na Primeira Guerra Mundial, mais ou menos as mesmas que foram mortas na Segunda Guerra Mundial. E o fato é que existem inúmeros romances, poemas, filmes, etc., que falam das duas guerras, mas que obra você se lembra que tem como tema a gripe espanhola? Eu, nenhuma: apenas lembro de um verso de T. S. Eliot, alguma alusão em um romance de Virginia Woolf ou Josep Pla, o grande escritor catalão. Nada mais. Para relembrar García Márquez: as pandemias não têm quem as escreva (e seria muito interessante investigar o porquê: talvez porque, ao contrário das guerras, carecem de drama). Quanto à minha vida durante a pandemia, direi uma coisa que pode soar ruim (a verdade muitas vezes soa ruim: é por isso que tantas pessoas preferem mentiras): se a pandemia não tivesse sido uma catástrofe coletiva, teria sido pessoalmente um bênção. A razão é que tenho ficado em tempo integral em casa, sem viajar — viajo muito —, com minha esposa e filho, fazendo o que mais gosto de fazer, que é escrever, ler e pensar na morte da bezerra. E também o fiz com plena consciência, porque, como não sou médico nem nada disso, ficar em casa foi o melhor que pude fazer para ajudar a resolver a catástrofe. Além disso, nenhuma pessoa próxima sofreu da doença. Portanto, não posso reclamar.

• O que você conhece da literatura brasileira? Quais autores leu?
Euclides da Cunha, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Jorge Amado, para ficar apenas nos narradores. Não são muitos, mas são todos muito bons. Também conheço alguns romancistas vivos, como Daniel Galera e Michel Laub.

• Você é um escritor com muitos prêmios. No Brasil, nos ressentimos por não termos um Nobel de Literatura, mesmo com autores excepcionais em nossa história. Que autores brasileiros acha que mereciam a honraria?
Acredito que se dá muita importância ao Nobel. Os prêmios são muito bons, principalmente quando são para você. Agradeço muito àqueles que me premiaram e procuro não rejeitar nenhuma honraria — a menos que a Ku Klux Klan a conceda —, porque com prêmios é o mesmo que se dá com elogios: quem rejeita um é porque quer dois. Mas um prêmio, por mais importante que seja, não torna você um escritor melhor, não o ajuda a escrever a próxima frase ou torna bom um livro ruim. Há escritores muito bons que receberam o Nobel, mas também escritores muito ruins, e Guimarães Rosa continua um grande escritor com ou sem Prêmio Nobel, assim como Joyce, Proust ou Borges, que também não ganharam o Nobel.

“A ficção pura é uma invenção daqueles que não sabem o que é ficção; a ficção sempre parte da realidade, que é seu combustível, e constitui uma transfiguração da realidade que dá um sentido universal ao particular.”

• No Brasil, pesquisas mostram que se estão lendo mais livros de ficção durante a pandemia. Acredita que a literatura pode voltar a ter protagonismo na vida das pessoas, como no passado pré-internet?
Não sei. A literatura alguma vez desempenhou um papel importante na vida das pessoas? De algumas pessoas sim, como Melchor Marín, e de outras não. Antes da internet, lia-se mais do que depois da internet? Duvido muito. Talvez nos pouquíssimos países onde havia muitos leitores, como a França, a Alemanha ou nos países escandinavos, essa ideia contenha um pouco da verdade, mas em países como os nossos, que até pouco tempo atrás apresentavam altos índices de analfabetismo e nunca se leu muito, acho que não é assim. Seja como for, a única coisa que posso dizer é que a literatura é antes de tudo um prazer, como o sexo, mas também é uma forma de conhecimento, tal como o sexo, e é por isso que, quando alguém me diz que não gosta de ler, a primeira coisa que me ocorre é oferecer minhas condolências, ou acompanhá-lo no sentimento, como faria com quem me diz que não gosta de sexo.

• Você parece ser um autor bastante obcecado pela literatura. Alguma vez já se sentiu farto dos livros?
Não, assim como nunca me cansei de sexo.

• Quais são seus planos para o futuro breve?
Sobreviver. Escrever. Sobreviver escrevendo. Terra Alta faz parte de uma tetralogia que no final certamente se chamará Terra Alta e que consiste em quatro livros que podem ser lidos de forma independente, mas que acabarão constituindo um romance único e longo, tão longo ou mais longo que Os miseráveis (o livro-fetiche de Melchor Marín): a segunda parte, intitulada Independência, já foi publicada na Espanha e na América Latina (também na Itália), e a terceira será publicada no próximo ano.

Terra Alta
Javier Cercas
Trad.: Mariana Marcoantonio
Tusquets
304 págs.
Luiz Rebinski

É jornalista e escritor. Autor do romance Um pouco mais ao sul.

Rascunho