Vidraça #248

Notas sobre literatura e mercado editorial
Foto: Ozias Filho
01/12/2020

Um olhar literário
O poeta e fotógrafo Ozias Filho estreia nesta edição do Rascunho a coluna Quem eu vejo quando leio. A primeira escritora escolhida é a romancista Andréa Zamorano, autora de A casa das rosas e radicada em Portugal há 20 anos. Ozias nasceu no Rio de Janeiro, em 1962. É autor, entre outros, de Poemas do dilúvio, Páginas despidas e O relógio avariado de Deus. Como fotógrafo tem vários livros publicados e já expôs no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes. Em Portugal, expôs na Fundação Marquês de Pombal, em A Pequena Galeria, na Casa da América Latina, onde integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Vive em Portugal desde 1991.

Terapia de choque
Depois de ter seus episódios de depressão narrados pelo ex-marido, o escritor norueguês Karl Ove Knausgård, autor da aclamada série Minha luta, chegou a vez de Linda Boström fazer um relato autobiográfico. O diário da queda está no recém-lançado A pequena outubrista, editado pela novíssima Rua do Sabão. Boa parte do relato de Boström se atém ao tratamento de choque que recebeu na Suécia entre 2013 e 2017. O livro tem sido saudado como uma importante reflexão sobre identidade, depressão e liberdade.

O lugar da literatura
Carola Saavedra, colunista do Rascunho, lança no início de 2021 O mundo desdobrável – ensaios para depois do fim, pela Relicário. Na obra, a romancista apresenta diversas e importantes inquietações. Diante de um mundo em colapso (aquecimento global, pandemia, crise econômica, ascensão da extrema direita etc.), para que serve a literatura? Por que ler e escrever literatura quando tudo parece mais importante, mais urgente? “É um livro sobre os meandros da leitura e da escrita, mas também uma homenagem à literatura enquanto ferramenta essencial na construção de outros mundos possíveis”, diz Carola.

Centenário
Além dos centenários de Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e José Mauro de Vasconcelos, em 2020 celebram-se também os 100 anos de Ruth Guimarães, escritora paraibana morta em 2014. Elogiada por nomes como Erico Verissimo e Antonio Candido, Ruth Magalhães, a primeira escritora negra a ganhar destaque nacional, acabou esquecida com o passar dos anos. Seu livro mais famoso, Água funda, de 1946, tem trazido à tona, mais uma vez, temas delicados para um Brasil distópico e à beira do caos.

Prêmio
O Prêmio Off Flip 2021 está com inscrições abertas até o dia 15 deste mês. Diferentemente dos anos anteriores, o prêmio agora contempla também a categoria Crônica, além das tradicionais Conto e Poesia. Os textos selecionados serão publicados em uma coletânea e os vencedores receberão premiação em dinheiro, além de assinatura digital do Rascunho. A inscrição, que é gratuita, pode ser feita diretamente no site do prêmio.

Em alta
A venda de e-books cresceu 50% durante a pandemia de Covid-19, em comparação com o mesmo período de 2019. O levantamento, realizado pela Bookwire Brasil aponta que esse foi o maior crescimento do segmento no país desde 2014. O motivo para esse aquecimento é óbvio: o fechamento do comércio e o isolamento social.

Flip, enfim
Depois de tantas polêmicas, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que neste ano acontece de modo online entre 3 e 6 de dezembro, fechou a lista de 21 autores confirmados para o evento. Entre os convidados estão os brasileiros Jeferson Tenório, Itamar Vieira Júnior, Ana Paula Maia, Lilia Schwarcz e os estrangeiros Pilar Quintana (Colômbia), Jonathan Safran Foer (EUA), Regina Porter (EUA) e Bernardine Evaristo (Inglaterra).

Breves
• Jorge Ben tem um dos seus discos mais importantes revisitado no livro da jornalista Kamille Viola: África Brasil: um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver (Edições Sesc).

• Davi Boaventura, autor de Mônica vai jantar, e a editora Taiane Martins encabeçam o projeto Leio Seu Livro, que se dedica à leitura crítica de originais. Para saber mais sobre a iniciativa, acesse: leioseulivro.com.

• Os paranaenses das livrarias A Página devem chegar ainda este ano a São Paulo. Será a primeira loja fora da região sul. Em 2020 ainda inauguram mais uma loja no Paraná, desta vez em Londrina, em espaço antes ocupado pela Saraiva.

• Por falar em Saraiva, a gigante varejista não conseguiu encontrar um comprador para o seu e-commerce. Alguns interessados, como a Magazine Luiza, Amazon e Mercado Livre, preferiram não avançar nas negociações.

Jonatan Silva

É jornalista e escritor, autor de O estado das coisas e Histórias mínimas.

Rascunho