Duas perdas

Notas sobre literatura e mercado editorial
26/08/2017

 

A escritora Elvira Vigna — autora dos livros Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (2016), Por escrito (2014), Nada a dizer (2010), entre outros — faleceu em 10 de julho, aos 69 anos. Diagnosticada em 2012 com carcinoma micropapilar invasivo, um câncer de mama, a autora preferiu que a doença não viesse a público. A escolha se deu porque a autora temia “ser excluída das atividades profissionais que dependessem de convite”. [Leia sobre Elvira na coluna de Fernando Monteiro, página 23]. No mesmo dia, morreu a psicóloga, professora e escritora Ecléa Bosi, conhecida pelo seu trabalho com a psicologia social e pela dedicação ao estudo da memória, conquistando em 2009 o Prêmio Internacional Ars Latina. Ecléa tinha 81 anos e publicou Velhos amigos (2003) e Memória e sociedade (1984).

Indian writer and political activist Arundhati Roy

Fim do silêncio
Apos duas décadas, a indiana Arundhati Roy, autora do festejado O deus das pequenas coisas (1997), retorna à literatura com o romance O ministério da felicidade absoluta, que narra a história de Anjum, uma mulher transexual na Índia. A obra é um espelho que reflete a beleza e os conflitos do país. Apontando as contradições e as injustiças da sociedade indiana, Arundhati constrói uma importante ponte entre o passado e o futuro, colocando os holofotes sobre “pessoas que foram destruídas pelo mundo no qual vivem e em seguida resgatadas por atos de amor e esperança”.

Cajarana de papel
A editora curitibana Arte & Letra inaugura no segundo semestre o selo Cajarana, que nasce com a proposta de facilitar e estreitar os caminhos entre leitores e novos autores. Segundo Otavio Linhares, que idealizou o projeto ao lado dos irmãos Thiago e Fred Tizzot, o selo significa também a possibilidade a escritores estreantes de terem a sua obra distribuída em âmbito nacional. O primeiro fruto dessa nova safra deve estar no varejo até outubro.

Novidades à vista
Além do selo Cajarana, a Arte & Letra prepara uma série de lançamentos para os próximos meses. Estão previstos: A peça intocada, de Luci Colin, e Sexta-feira da semana passada, do icônico Manoel Carlos Karam. As novidades estrangeiras são A leitora incomum, da inglesa Virginia Woolf; As lembranças do porvir, da mexicana Elena Garro; e Azul, do nicaraguense Rubén Darío. Pelo selo Encrenca, serão publicados o livro de poesias Melodias migratórias, da irlandesa Moya Cannon, e a novela Nova Holanda, de Sérgio Rubens Sossella.

Vidraça_Lobão_208

As garras do lobo
O cantor e escritor Lobão está de volta às prateleiras com Guia politicamente incorreto dos anos 80 pelo rock, publicado pela Leya. Como fez em sua autobiografia 50 anos a mil (2010) e Manifesto do nada na terra do nunca (2013), transforma a obra em um tanque de guerra contra seus desafetos, sem poupar Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos e até mesmo o seu contemporâneo Herbert Viana.

Uma década
Os gaúchos da Não Editora celebraram no começo de julho os 10 anos do lançamento do projeto Ficção de polpa. A coleção traz histórias de terror, crime, aventura e ficção científica. Foram lançados cinco volumes com relatos temáticos. Já participaram da empreitada os escritores Antônio Xerxenesky, Cardoso, Stanley G. Weinbaum e Carlos Orsi.

Breves

• A Zahar completa 60 anos em 2017. Para celebrar a data, a casa planeja eventos, promoções e um livro sobre seu fundador, o editor Jorge Zahar.

• O selo Galera, da Record, publicou o livro O Melhor guia de k-pop real oficial, dos YouTubers Hugo Francioni e Pedro Pereira. Como o título indica, a obra é um mapa sobre a cultura pop e a produção musical atual na Coreia do Sul.

• O governo de São Paulo prevê R$ 1,56 milhão para iniciativas voltas à literatura e à leitura. De acordo com a Secretaria de Cultura, serão selecionados 56 projetos que poderão receber até R$ 40 mil para a criação, publicação ou investimento em obras literárias.

• Pela primeira vez, desde 2015, o varejo de livros cresce acima da inflação. De acordo com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, de janeiro a junho deste ano, as vendas subiram 6,81%, em comparação com o mesmo período de 2016.

• As inscrições para o Prêmio Paraná de Literatura vão até 31 de agosto para livros inéditos nas categorias Romance, Conto e Poesia. Os vencedores receberão R$ 30 mil e terão a obra publicada com tiragem de mil exemplares. No site www.bpp.pr.gov.br.

Rascunho