Anotações sobre romances (38)

A segunda marca do novo romance francês
A crítica literária Leyla Perrone-Moisés
05/10/2016

Continuando a discussão teórica acerca do Novo Romance francês. Conforme ainda Leyla Perrone-Moisés, no livro O novo romance francês, a segunda marca do Novo Romance (Nouveau Roman) é: 2) Romance dos possíveis — há como que uma nova concepção do tempo romanesco, sendo que seu desenrolar nunca é linear, mas “enovelado, quadrimensional, reversível”. Assim, “o tempo passado é guardado na memória como um bloco compacto que pode ser ressuscitado por parte, sem levar em conta a ordem em que se deram os acontecimentos, mas respeitando simplesmente o mecanismo das associações, segundo o qual os fatos ressurgem e são mais ou menos ampliados segundo o eco que tiveram na sensibilidade do indivíduo. Esta técnica corresponde à verdade psicológica, pois nosso passado não está em nossa memória como uma história em quadrinhos, mas como um jogo de cartas embaralhado”. O Novo Romance, portanto, “sendo o campo em que todos os possíveis podem coexistir, dá-se o direito de fugir ao tempo cronológico e até mesmo anulá-lo com voltas ao passado que se contradizem umas às outras, ou bruscas paradas, já que cada instante é desdobrável em possibilidades infinitas e autodestruidoras”.

Continuo na próxima coluna.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

Rascunho