(…) Minha pátria é minha infância.
Por isso vivo no exílio. (…)
Cacaso
Minha pátria tem exílios, onde aves canoras celebram hinos de memórias. Minha pátria é tão diversa que, de facto, às vezes acordo com outro bilhete de identidade na carteira. Quanto de nós é gênese? Quanto de nós é exílio? A poesia, ou a escrita no geral, alcança os vestígios da primeira morada, ou nos distancia? Quem sai da sua terra verdadeiramente regressa ou, como camaleões, muda de pele conforme a dança que se nos apresenta? A escrita é este lugar de conforto, a pátria imaginária, a Ítaca verossímil?
Lauren Mendinueta, escritora colombiana que vive em Portugal há muitos anos, enfatiza a importância de sua língua materna como um elo fundamental com a Colômbia. Escrever em espanhol é uma forma de continuar residindo no território da sua infância e juventude, de manter viva a chama de suas raízes. A língua, a escrita, se torna, assim, uma pátria portátil, um refúgio onde ela se pode reconectar, e expressar, a sua identidade às origens. “Quem sai do seu país jovem, termina por habitar, em permanência, o lugar da sua infância e da sua juventude. Portanto, de alguma maneira, na minha literatura, eu sempre estou a voltar àqueles primeiros anos na Colômbia, à terra dos meus pais.”
Este lugar físico, que também o é um lugar do imaginário, nos consola, abriga, dá forças? Que lugar é esse, afinal? Agarramo-lo através da escrita ou o misturamos às outras vivências, e já não existem fronteiras de pátria? Para a escritora, tradutora, e mulher da cultura ativa em Portugal, e no universo literário hispânico, continuar a escrever em castelhano, é uma forma de se reafirmar colombiana. “Eu nunca renunciaria a minha língua, porque significaria abdicar à minha pátria. (…) A língua é uma maneira simbólica de habitar o meu país.”
Não obstante a este fato, a relação da poeta com Portugal se transformou num laço maternal, num sentimento de amparo e de proteção, que a faz sentir-se parte integrante do país; ao ponto de, por vezes, coexistir no seu coração, alguma dualidade, e ela passa a se reconhecer como filha de duas pátrias; ambas com suas memórias e afetos, passados, presentes e futuros. E no caso desta escritora, parafraseando Pessoa, a sua pátria é, de fato, a língua; no seu caso, a castelhana; mas é também a pátria, o território, da saudade, esta forma de sentir tão genuinamente portuguesa.

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