🔓 140 anos de Joyce: 5 escritores influenciados pelo autor de Ulysses

Renovador da linguagem literária, o irlandês fez escola e se tornou um farol para outros grandes nomes da prosa no século 20
James Joyce, autor de “Finnegans wake”
02/02/2022

James Joyce, que nasceu há 140 anos, em 2 de fevereiro de 1882, foi o que se pode chamar de autor dos autores. Ele, claro, tem leitores no mundo todo — e são tão fervorosos que até se vestem como o romancista nascido em Dublin durante o “Bloomsday”, o 16 de julho em que se celebram o livro e o personagem mais famosos dele, Ulysses e Leopold Bloom, respectivamente.

Mas Joyce e sua prosa tiveram um efeito tão poderoso, que ao longo do século 20 serviram de inspiração para outros autores que se tornaram amplamente lidos e reconhecidos pela crítica. Essa lista vai da inglesa Virginia Woolf ao americano Thomas Pynchon.

Cada um, claro, trilhou caminho próprio, com voz inconfundível. Mas as marcas de Joyce são visíveis no fluxo de consciência de Mrs. Dolloway, um dos romances mais famosos de Virginia, que não por acaso se passa em um único dia de junho, assim como Ulysses. Assim como a desconstrução narrativa de O arco-íris da gravidade, de Pynchon, paga tributo à obra-prima joyceana.

Filho mais velho entre dez irmãos, Joyce cresceu em meio à pobreza em Dublin. Sua primeira ficção, Dublinenses, lançada em 1914, disseca a “alma irlandesa” por meio de contos. O livro seguinte, seu primeiro romance, Retrato do artista quando jovem, é cheio de elementos autobiográficos e conta a história da infância de Stephen Dedalus, alter ego de Joyce.

Ulysses é a continuação de Retrato e conta a saga de Leopold Bloom, um judeu que tem sua vida “normal” transformada em algo épico pelo virtuosismo linguistico e criativo de James Joyce. Em 1999, o livro foi eleito o melhor romance em língua inglesa do século 20 por críticos da Europa e dos Estados Unidos. O que não é novidade. Desde que foi lançado, ele está sempre na primeira prateleira da literatura mundial.

Virginia Woolf
A escritora inglesa teve uma relação conflituosa com James Joyce, o que não a impediu de absorver técnicas narrativas primeiramente usadas pelo irlandês. Isso valeu a Virginia, o status de grande renovadora do romance no século 20, ao lado do próprio Joyce e do francês Marcel Proust. Uma de suas principais obras, o romance Mrs. Dolloway, utiliza-se do fluxo de consciência em uma narrativa intensamente psicológica. Virginia desenha paisagens mentais que envolvem questões existenciais de Clarissa Dolloway, a principal personagem. Talvez o mais joyceano dos livros da autora inglesa.

Samuel Beckett
Amigo de Joyce e irlandês como ele, Beckett é autor de uma das obras mais enigmáticas da literatura mundial no século 20. Assim como sua própria vida é cheia de “lacunas biográficas”. “Gosto de todas essas mentiras e lendas, quanto mais existem, mais interessante eu me torno”, disse certa vez. E isso foi levado à sua literatura também. Em 1949 escreveu Esperando Godot, uma peça que causou espanto ao apresentar dois vagabundos que esperam infinitamente a chegada de um personagem misterioso. Joyce exerceu uma enorme influência sobre os primeiros escritos de Beckett e foi a razão de ser de uma importante retração estilística na produção do pós-guerra.

 

David Foster Wallace
Nascido em 1962, o escritor americano é tido como um dos mais brilhantes e talentosos de sua geração. Romancista, contista e ensaísta, ele escreveu seu nome na literatura mundial com Graça infinita, um longuíssimo romance que pega emprestado de Joyce e Ulysses a ideia de que em uma peça literária de ficção pode-se tudo (ou quase tudo) — desde quebrar as regras linguísticas quanto destorcer a ordem política mundial. Para isso, DFW segue os passos dos irmãos Incandenza, conforme tentam dar conta do legado do patriarca James Incandenza, um cientista de óptica que se tornou cineasta e cometeu suicídio depois de produzir um misterioso filme que, pela alta voltagem de entretenimento, levava seus espectadores à morte.

 

Thomas Pynchon
Considerado um dos autores mais inventivos e singulares da segunda metade do século 20, Pynchon segue adiante a ideia de Joyce de embaralhamento dos paradigmas da prosa. Ele também pegou emprestado do irlandês uma veia cômica que o fez um mestre desse estilo. Desde o início de sua carreira, Pynchon mostrou a prosa extravagante que caracterizaria sua carreira, com os romance V. e O leilão do lote 49. Mas foi com O arco-íris da gravidade, de 1973, que ele chega ao ápice de sua mistura amalucada entre entretenimento e literatura. No livro, ele imagina a história de Tyrone Slothrop, um americano servindo na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial que descobre que o mapa de suas conquistas sexuais corresponde exatamente ao padrão dos bombardeios nazistas. E isso é só o começo.

 

João Guimarães Rosa
Assim como Joyce, a obra de João Guimarães Rosa se distingue pelo sofisticado trabalho de linguagem. Em seu livro mais célebre, que se tornou um clássico brasileiro, Grande sertão: Veredas, ele recria a tradição oral e metafísica do sertão de Minas Gerais, o estado onde nasceu. Poliglota e estudioso das línguas, ele se notabilizou pela invenção de palavras, como o neologismo “nonada”, que abre seu romance mais épico. Na história publicada em 1956, Rosa segue o percurso de um bando de jagunços que, em suas andanças e conflitos, possibilitam ao leitor um mergulho profundo na alma humana.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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