A intensa experiência de conviver com os portenhos de todas as classes sociais, sobretudo da classe trabalhadora, e transitar por paisagens que não costumam estar nos guias turísticos inspirou a mineira Flávia Péret a escrever Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças — leia quatro contos do livro, publicados pelo Rascunho em primeira mão.
Em edição bilíngue e com tradução de Paloma Vidal, o livro será lançado neste sábado (31), às 18h, em evento transmitido pelo YouTube. Além da edição bilíngue, foi produzido, exclusivamente na versão português, um audiobook como forma de democratizar o acesso às pessoas cegas ou com baixa visão.
O audiobook, bem como todas as informações complementares do projeto, estão disponíveis no site da editora Guayabo. Parte da tiragem será distribuída gratuitamente e enviada por correio para todo o Brasil.
Contos e viagens
Trata-se de um livro de contos, mas que também pode ser lido como um pequeno romance de viagens ou uma coletânea de narrativas — que transitam entre vários gêneros textuais — sobre a cidade de Buenos Aires (Argentina).
O livro brinca com a ideia contida num trecho de Cidades invisíveis, do italiano Ítalo Calvino, de que as cidades nos desafiam a decifrá-las, entendê-las, mas que, ao mesmo tempo, nos trazem mais perguntas do que respostas.
O livro é um relato autobiográfico e ficcional que reflete sobre os motivos pelos quais as pessoas viajam, por que se deslocam, mudam de vida e de paisagem. A narradora está o tempo todo atenta e curiosa pelas histórias das pessoas e do país.
A relação com a literatura — já que a narradora é uma estudante de literatura que deseja se tornar escritora — se dá pelas inúmeras referências diretas e indiretas que aparecem nos textos, a começar pelo título do livro: Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças, uma explícita homenagem ao escritor argentino Julio Cortázar e seus contos em forma de “instruções”.
Esse jogo com a literatura, a arte e a cultura argentinas segue em alguns outros contos cujos títulos são reapropriações de títulos de obras de escritores locais, como Rodolfo Walsh, Ricardo Piglia e Jorge Luis Borges.
Trajetória
A escritora mineira Flávia Péret viveu em Buenos Aires em 2005. A mudança foi motivada por uma crise profissional. Uma jornalista desencantada com o jornalismo viaja para o país vizinho para estudar cinema e literatura. Matricula-se no curso de Cinema Documental da Universidade Livre Madres da Plaza de Mayo (criado pela organização de mesmo nome) e em algumas disciplinas do curso de Letras e Antropologia da Universidade de Buenos Aires. Ali, seu interesse pela literatura como objeto de estudo e de afeto se intensifica.
Flávia Péret é escritora, pesquisadora e professora. Mestre em Teoria da Literatura pela UFMG, atualmente realiza doutorado na Faculdade de Educação da UFMG. Em 2018, recebeu o prêmio Jean-Jacques Rousseau, pela Akademie Schloss Solitude (Alemanha) pelo seu trabalho com a literatura. Publicou os livros: Imprensa Gay no Brasil (2011), 10 poemas de amor e de susto (2013), Outra noite (2014), Novelinha (2016), Uma mulher (2017 e 2018), Os patos (2018) e Mulher-bomba (2019).