A crônica não nos deixa mentir, somos chamados a nos colocar aqui a todo momento e assim vai a palavra nos lendo, como dizer?, humanamente. Sim, humanamente. Pois não é como dizemos dos que ainda são capazes de sentir, se enlear e condoer-se? Que são humanos. Também dizemos que nossos erros são humanos, de maneira que somos lidos pela palavra, no calor da vida, nesse atributo que é tanto o da nossa grandeza possÃvel como o da máxima inópia.
A coerência aqui não é compulsória. Afinal, sendo humanos, somos também tantas vezes apaixonadamente contraditórios, um dia estamos quase niilistas, noutro dia apenas melancólicos, mais um dia e estamos prestes a mudar o mundo tamanho o arranque da nossa vontade. Está todo varado de vidas circunstantes o coração da crônica, que não gosta de castas nem de guetos, brinda com os desconsolados, erra com os extraviados, acena para os sonhadores, beija os delicados e os revoltosos.
Não havendo assunto que aqui não caiba, muito além do tal Ãnfimo cotidiano, nossa palavra só não pode ser mentida, ou ela mesma nos desmentirá logo ali adiante. Pois é chegar sem muita estratégia, sem defesa de tese, francamente, com o que tem nos trespassado de assombro, indignação, ternura, graça, e deixar-nos ler no plexo da nossa humanidade.
E hoje o quê? Hoje sejamos excepcionalmente coerentes e humanos, no que esse atributo tem de grandeza e dignidade, e confiemos que até o final do mês corrente nos livraremos da égide dos idiotas, todos nós que sabemos dos últimos anos de pesadelo, confiemos que esse outubro de náusea madura os vomitará para o escuro da história, a esses nefastos idiotas, como o mar tem vomitado, desde 2019 até hoje, na costa do Brasil, fardos nazistas de navios de guerra naufragados, como aconteceu há uma semana, na praia de Ilha Comprida, no litoral de São Paulo.
Confiemos.