Diz lá um bem meditado aforismo que a primeira preocupação que nos toma desde o nascer do sol será a que continuaremos a moer no espÃrito ao longo de todo o dia. Daà o aconselhável de boas preocupações, por assim dizer, pela manhã. E se de manhã não estamos no diapasão do cântico, não faz mal, servem palavras simples pensadas ou ditas com afã. E o que é que me toma lá pela madrugada, enquanto fervo um pouco de leite? Clemência. Clemência para tudo o que desmente por um momento a chulice deste mundo. Clemência aos jasmineiros carregados do parque, por exemplo, com toda aquela doçura que trescala, clemência para as palavras que vazam e tontos sorvemos com delÃcia, clemência a Paolo e Francesca que nunca mereceram castigo, quanto mais a escura ventania inestancável do segundo cÃrculo do Inferno, exceto talvez por serem parentes ou terem interrompido a leitura do livro. A nenhum amor cominação, se pudesse lançar essas palavras como trigo, para moer ao longo do dia, a nenhum amor cominação, se a própria alma abocanha o pão que é feito desse trigo, se a própria alma lambe o mel das nossas palavras profÃcuas, piedade porque não vejo prejuÃzo de flor derramada nessa festa que ainda eclode dentro de casa, nesse perfume que leva a escrever, piedade a todos e todas deste mundo que passam horas na mÃsera alegria de um poema, dentro mesmo de um cenário atroz, piedade a todas e todos que ainda bebem dos jasmins, mesmo no meio de tantas péssimas preocupações e ares imperdoáveis. Pronto. Ficam lançadas essas palavras, poucas mas fervorosas, para começar o dia.