Quando comecei a publicar livros, descobri um novo relógio. Eu vinha do jornalismo e da publicidade, onde os textos eram para ontem, mensagens tinham respostas imediatas, emails eram enviados e respondidos nos finais de semana. O manuscrito da minha primeira publicação, A teta racional, demorou quatro meses para ser lido. Outros seis para ser publicado. Talvez nem seja tanto. Sei de originais que demoraram mais de um ano para ser lidos. Livros que demoraram mais de cinco para ser publicados. Emails de recusa que chegaram ainda depois disso.
Morosidades reprováveis à parte, o tempo da literatura é outro. No momento em que escrevo esse texto, estou fechando um ciclo. Lancei um romance, trabalhei durante meses no lançamento e divulgação e agora respiro e me preparo para escrever um novo livro. Quando devo entregá-lo?, perguntei ao meu editor, pensando que, quanto antes, melhor. Ele me disse para deixar de ser prolÃfica. A máquina do mercado editorial está preparada para lançar um livro (de cada escritor) a cada dois anos. Um ano para preparar, lançar e divulgar a obra. Outro para concorrer a prêmios, quem sabe ampliar as vendas. Escritor que aparece com um manuscrito a cada ano é problema. Eu disse para ele que estava aliviada, meu próximo romance envolve pesquisa. Ele falou para eu ficar tranquila: se entregar o romance dentro de três anos, também está ótimo.
Não sei de outro trabalho que conceda prazos tão generosos. Talvez seja diferente com best-sellers – é justo que o sucesso tenha seu ônus –, mas para mediano-sellers como eu, o ponteiro não faz pressão. E que sorte que não faz. Seja por questões financeiras, operacionais ou por respeito ao processo artÃstico, é uma bênção que o tempo da literatura seja distinto. Adoro pensar que, partir de agora, posso ficar meses só lendo. Ou então só observando as minhas unhas crescerem. E se eu passar de três anos nesse éter, sem drama. Vou mandar um email avisando. E eles vão demorar dias ou semanas para responder.