Os entusiastas das exposições imersivas que me desculpem, mas tudo anda muito literal. Parecerá pouco simpático dizer que não há nada tão imersivo quanto observar demoradamente um quadro. Mas não, nas exposições imersivas de grandes artistas que andam se espalhando por aí, de Paris a Nova York, aqui no Brasil se replicando em galpões e andares de shoppings, não há quadro nenhum, pintura nenhuma, embora brilhem nos cartazes promocionais, com total ênfase, os nomes de Van Gogh, Monet, Klimt, Kandinsky, Portinari e outros.
Diz-se exposição imersiva por estarmos todos dentro de um grande espaço de projeções. E não bastam as projeções em grande escala de imagens de quadros famosos. Agora os quadros ganham movimento, seus detalhes se agigantam, tornam-se animações, como se isso os dotasse de vida e nos desse de bandeja um bom pretexto para uso do termo “sensacional”. Uma experiência não exatamente imersiva, aí é que está. Sensacional.
Como se o ato de ver fosse substituído por seu efeito, e aquilo que antes se espraiava por dentro, desde uma divagante observação, agora se derramasse logo por fora, em seguida evaporando em nuvens de memória. Nessas nuvens é que mergulhamos. É a sensação de um Monet de Morel, um aroma visual de Van Gogh, ecos do ouro de Klimt.
Sim, tem lá sua beleza cênica e recreativa alguém sentir que caminha por entre os nenúfares de Monet, os sóis de Portinari ou as pinceladas vigorosas de um Van Gogh, como no sonho de um sonho de Kurosawa. Quiçá também renda ótimas fotos dos nossos corpos mergulhados em salas luminosas de cores. Mas satisfeitos, satisfeitos mesmo, devem ficar os que promovem, finalmente sem trâmites de empréstimo e sem expensas com seguro, todas essas espetaculosas exposições sem obras.