Os ipês andam estourando suas flores berrantes pela cidade e eu tenho um silêncio cheio de palavras para essas calçadas forradas de amarelo. A miséria também rebenta pelas ruas num populoso protesto descalço, sem dia nem local certos nem data marcada, porque todos os dias, a toda hora e em toda a parte.
Setembro é o estertor dos homens-tanque, dos homens-pistola, dos subnazis, a indisfarçável derrocada dessa gente virulenta entre os ipês explodindo em amarelo e uma população em tudo abandonada. É o gorgulho de agonia do monstrengo e seu palavrório ficando remoto, como se de volta aos esgotos, no despontar da primavera nessas lamparinas de pétalas ensolaradas.
Setembro é também um Drummond esplendidamente lascivo, o amor dos banquetes domésticos em que matamos nossa fome de nos transportar além estando aqui, com os nossos próprios parcos recursos, só bastando para isso a oportunidade de um chão. Setembro dos homens com deuses entre as pernas, florindo em arrepio e cÃrculos concêntricos, sem ofensa ao sacrossanto céu de ninguém.
É o cano da morte à queima-roupa se curvando na queda de braço com o que não morre, com o que volta, escangalhado mas volta, incendiado mas volta, nu e em rama. É o tesão dos ipês aflorados nos incitando à prova de um esplendor à sua altura. E um esplendor à altura desses ipês luzentes não é prova fácil. É poema de setembro, de explodir fora da página.