Nem antes nem depois: agora, nesse instante, nessa orla que se alarga e nos recebe, sempre nos recebe, tanto na ideia escorreita quanto no tartamudeio, não importa, nesse entremeio de liberdade podem todas as derrotas, pode também o desespero, tudo que é contradição e erro maravilhoso pode, não será agora que vão nos apontar o dedo ou reclamar coerência, não é ainda hora de as coisas se deixarem ver, nem será aqui que vão espetar bandeiras, subir torres ou demarcar terrenos, não nesse instante, não nessa orla, que o que há por enquanto é só uma dança que ninguém nem suspeita, um pensar solto de pareceres e sentenças, um ir e vir sem pudores, um texto ainda se tecendo, se experimentando, se fazendo, uma questão de sonho e sangue, esse estar todo atento, tateando, nesse ateliê em que o bom e o mau vivem debaixo da mesma sombra, e não há nada limpo, nada reto nem perfeito, nesse entremeio em que um rosto vai aparecendo e ainda não é público, e seu riso, um pouco trágico, sozinho sabe que não é o único, nesse transcurso de polpa se encarnando intimamente, nesse fazer só, mas telepático, antenado, em movimento, impregnado do ar e do chão de tanta gente, dispondo de muito com somente papel, caneta e tempo: escrever.