Não faz muito tempo distribuÃram tocos de tronco pela beira do lago do parque da Aclimação, que ficam ocupados à hora do pôr do sol, especialmente nessas tardes vermelhas de outono. De longe brilham meio acobreadas figuras solitárias contemplando o último sol do dia, e eu as contemplo.
Mais acima dos contemplativos, no horizonte, está a pista que rodeia o parque, também cheia a essa hora, com gente empreendedora que marcha firme ou corre suando a quilometragem pretendida, também duplas e duplas de gazeteiros, difundindo em bom som vergonhas alheias para quem quiser ouvir. Há, ainda, os mais do que solitários, algo suspeitos, em pés de arbusto ou pelas trilhas mais fechadas do bosque, num assunto qualquer descaradamente esquisito, e os indefectÃveis carrinhos de bebê (alguns deles malucamente ocupados por cachorros), o futebol, os namorados e o lento balé marcial de invisÃveis espadas de algumas figuras irmãs das garças branquÃssimas. Cada um ali compenetrado num pequeno objetivo, com o parque lhes servindo de pano de fundo.
De novo olho para os empoleirados em seus tocos de tronco, aproveitando aquela hora de rápida transmudação de cores do céu espelhado no lago, ocupando-se com nada além de estar ali e observar, sem indÃcio do que lhes vai por dentro. Eles são poucos, conquanto encham todos os assentos, e estão ali parados, retirados da roda das atividades eficientes, por uma hora voltados para a própria hora, do amarelo ao violeta. Escrevo pensando neles.