Outro dia eu passava na rua perto de casa e vi uma praça em festa. Tinha música, gente dançando, uma feira de artesanato, churrasco. Aí me lembrei de que aquela mesma praça, no tempo recente da pandemia, estava triste e deserta. Desde a reabertura da vida, aquele foi o primeiro movimento realmente festivo do lugar, e era como se as pessoas estivessem realmente saindo de uma guerra e indo estender as bandeiras da paz.
Cheguei em casa e percebi que a retomada do otimismo é um processo lento e varia de pessoa para pessoa. Nem todo mundo consegue voltar à praça com a mesma leveza e rapidez de antes. Uns imediatamente saem ao primeiro som da música. Outros ainda resistem, pois os anos em que a vida parou deixaram marcas profundas pelos mais diversos motivos.
Minha filha mais velha me disse que está pessimista e busca dentro dela a antiga pessoa radiante e cheia de sonhos. A princípio eu reagi, dizendo não haver motivo e que a vida é linda, aquela história toda… Depois percebi que eu também perdi muito do meu otimismo e que tenho estado sem vontade de comemorar a paz na praça. Na verdade, nenhum de nós é a mesma pessoa depois do isolamento. Acho que mudei para sempre.
Talvez eu seja daquelas pessoas que escutam a música, mas precisam de um pouco mais de tempo para reagir ao movimento lá fora. Há muito o que fazer, arrumar, colocar em ordem dentro da casa e dentro de mim. Pode ser por conta da profissão, não sei. Tenho vivido socada em uma solidão maior, temendo ser otimista novamente. Mas sei que um dia eu também irei de algum modo à praça da paz levantar minha bandeira. Pode não ser exatamente aquela praça real perto de casa, mas um espaço metafórico de vida, afeto, aleluia.