Poemas de Hugh MacDiarmid

Leia os poemas traduzidos "A morte do bardo", "Exaustão", "No fundo do mar", "No mausoléu", "Perfeitos", "A cama da criada" e "A cama da criada"
Hugh MacDiarmid, poeta escocês
01/07/2021

Tradução e seleção: André Caramuru Aubert

Skald’s death

I have known all the storms that roll.
I have been a singer after the fashion
Of my people — a poet of passion.
All that is past.
Quiet has come into my soul.
Life’s tempest is done.
I lie at last
A bird cliff under the midnight sun.

A morte do bardo

Eu conheci todas as rodopiantes tormentas.
Eu tenho sido um cantor em busca dos costumes
Do meu povo — um poeta da paixão.
Tudo isso é passado.
A serenidade invadiu minha alma.
A vida tempestuosa se foi.
Eu finalmente repouso.
Um penhasco íngreme sob o sol da meia-noite.

Scunner

Your body derns
In its graces again
As the dreich grun’ does
In the gowden grain,
And oot o’ the daith
O’ pride you rise
Wi’ beauty yet
For a hauf-disguise.

The skinklan’ stars
Are but distant dirt
Tho’ fer owre near
You are still — whiles — girt
Wi’ the bonnie licht
You bood ha’e tint
— And I lo’e Love
Wi’ a scunner in’t

Exaustão

Seu corpo esconde
Em sua graça, novamente
Como faz o escuro solo
Com os grãos dourados,
Afastando os mortos
Ó, orgulho, você se levanta
Com beleza, ainda
Meio se ocultando.

O brilho das estrelas
Não é mais que poeira distante
E no entanto aqui tão perto
Você ainda fica — às vezes — envolta
Dentro da mais bela luz
Que poderia não ter mais
— E eu amo, o Amor
Que me exaure.

On the ocean floor

Now more and more on my concern with the lifted waves of genius gaining
I am aware of the lightless depths that beneath them lie;
And as one who hears their tiny shells incessantly raining
On the ocean floor as the foraminifera die.

No fundo do mar

Hoje mais e mais atento às geniosas ondas que se levantam crescentes
Tendo ciência das profundezas escuras que sob elas jazem;
Como alguém que ouve suas diminutas conchas chovendo sem parar
Enquanto no fundo do mar os foraminíferos morrem.

At the cenotaph

Are the living so much use
That we need to mourn the dead?
Or would it yield better results
To reverse their roles instead?
The millions slain in the War —
Untimely, the best of our seed? —
Would the world be any the better
If they were still living indeed?
The achievements of such as are
To the notion lend no support;
The whole history of life and death
Yields no scrap of evidence for’t. —
Keep going to your wars, you fools, as of yore;
I’m the civilization you’re fighting for.

No mausoléu

Terão os vivos tamanha utilidade
Que precisamos prantear os mortos?
Ou obteríamos resultados melhores
Se fossem invertidos os destinos, o que sucedeu?
Os milhões assassinados na Guerra —
Prematuramente, as melhores sementes? —
Estaria o mundo um pouco melhor
Se eles ainda estivessem vivos, conscientes?
As conquistas, sendo o que são
Não dão, ao conceito, suporte;
Toda a história sobre a vida e a morte
Não produz sequer um fragmento de evidência. —
Prossigam com suas guerras, seus tolos, como os de antes;
Eu sou a civilização pela qual vocês lutarão.

Perfect

On the Western Seaboard of South Uist
(Los Muertos abren los ojos a los que viven)

I found a pigeon’s skull on the machair,
All the bones pure white and dry, and chalky,
But perfect,
Without a crack or a flaw anywhere.

At the back, rising out of the beak,
Were twin domes like bubbles of thin bone,
Almost transparent, where the brain had been
That fixed the tilt of the wings

Perfeitos

No litoral oeste de South Uist
(Los Muertos abren los ojos a los que viven)

Encontrei um crânio de pombo no machar ,
Todos os ossos secos e brancos como cal,
Mas perfeitos,
Sem qualquer rachadura ou defeito visível.

Nas costas, crescendo desde o bico,
Havia duas abóbodas, como bolhas de ossos finos,
Quase transparentes, onde antes ficava o cérebro,
Que fixavam o ângulo das asas.

Servant girl’s bed

The talla spales
And the licht loups oot,
Fegs, it’s your ain creesh
Lassie, I doot,
And the licht that reeled
Loose on’t a wee
Was the bonny lowe
O’ Eternity.

A cama da criada

A vela de sebo derretia
E ia a luz escapando,
Fraca, era ela a sua gordura,
Garota, eu duvido,
E a luz a rodopiar
Ali meio frouxa
Era o brilho jovial
Da Eternidade.

At my father’s grave

The sunlicht still on me, you row’d in clood,
We look upon each ither noo like hills
Across a valley. I’m nae mair your son.
It is my mind, nae son o’ yours, that looks,
And the great darkness o’ your death comes up
And equals it across the way.
A livin’ man upon a deid man thinks
And ony sma’er thocht’s impossible.

Junto ao jazigo de meu pai

A luz do sol ainda em mim, você envolto em nuvens,
Agora olhamos um para o outro como colinas
Através de um vale. Não sou mais o seu filho.
É minha mente, não o filho seu, quem olha,
E a grande treva de sua morte se avoluma
E que a iguala caminho afora.
Um homem vivo diante de um morto pensa
E é impossível o menor dos pensamentos.

Hugh MacDiarmid
Era o pseudônimo de Christopher Murray Grieve (1892-1978), um dos maiores poetas escoceses do século 20. Ao mesmo tempo nacionalista (defensor da independência da Escócia), socialista e modernista, escreveu poemas em gaélico, em inglês e também, por vezes, misturando as duas línguas (e culturas).
André Caramuru Aubert

Nasceu em 1961, São Paulo (SP). É historiador formado pela USP, editor, tradutor e escritor. Autor de Outubro/DezembroA vida nas montanhas e Cemitérios, entre outros.

Rascunho