Tradução e seleção: André Caramuru Aubert
Sweet sixteen
Well, you can’t say
they didn’t’ try.
Mamas never mentioned menses.
A nun screamed: you vulgar girl
don’t say brassieres
say bracelets.
She pinned paper sleeves
onto our sleeveless dresses.
The preacher thundered:
Never go with a man alone
Never alone
and even if you are engaged
only passionless kisses.
At sixteen, Phoebe asked me:
Can it happen when you’re in a dance hall
I mean, you know what,
getting preggers and all that, when
you’re dancing?
I, sixteen, assured her
you could.
Doce adolescência
Bem, você não vai dizer
que eles não tentaram.
Mamães nunca falavam de menstruação.
Uma freira gritou: sua garota vulgar
não diga sutiãs
diga pulseiras.
Ela prendeu mangas de papel
em nossos vestidos sem mangas.
O padre trovejou:
Jamais saia sozinha com um homem
Jamais sozinha
e mesmo se você estiver noiva
apenas beijos sem paixão.
Aos dezesseis anos, Phoebe me perguntou:
pode acontecer quando você, num baile
quer dizer, você sabe,
de engravidar, essas coisas, quando
está dançando?
Eu, com dezesseis anos, assegurei a ela
que sim.
…
Conversation piece
My Portuguese-bred aunt
picked up a clay shivalingam
one day and said:
Is this an ashtray?
No, said the salesman,
This is our god.
Fragmento de conversa
Minha tia, criada em Portugal,
um dia pegou um shiva lingam
de cerâmica e perguntou:
Isto é um cinzeiro?
Não, respondeu o vendedor,
Este é o nosso deus.
…
Women in Dutch painting
The afternoon sun is on their faces.
they are calm, not stupid,
pregnant, not bovine.
I know women like that
and not just in paintings—
an aunt who did not answer her husband back
not because she was plain
and Anna who writes poems
and hopes her avocado stones
will sprout in the kitchen.
Her voice is oatmeal and honey.
Mulheres em pinturas holandesas
O sol da tarde em seus rostos.
estão calmas, não são idiotas,
grávidas, não são bovinas.
Conheço mulheres assim
e não apenas em pinturas —
uma tia que não contestava o marido
não por ser simplória
e Anna que escreve poemas
e espera que seus caroços de abacate
brotem na cozinha.
Sua voz é aveia e mel.
…
De Souza Prabhu
No, I’m not going to
delve deep down and discover
I’m really de Souza Prabhu
even if Prabhu was no fool
and got the best of both worlds.
(Catholic Brahmin !
I can hear his fat chuckle still.)
No matter that
my name is Greek
my surname Portuguese
my language alien.
There are ways
of belonging.
I belong with the lame ducks.
I heard it said
my parents wanted a boy.
I’ve done my best to qualify.
I hid the bloodstains
on my clothes
and let my breasts sag.
Words the weapon
to crucify.
Prabhu de Souza
Não, não vou
mergulhar fundo e descobrir
que sou mesmo Prabhu de Souza,
mesmo que Prabhu não fosse bobo
e tenha tirado vantagem dos dois mundos.
(Brâmane católico!
Ainda ouço sua grande gargalhada.)
Não importa que
meu nome seja grego,
meu sobrenome, português,
minha língua, estrangeira.
Existem muitas maneiras
de pertencer.
Eu pertenço aos patinhos feios.
Ouvi dizer
que meus pais queriam um menino.
Fiz o possível para me adequar.
Escondi as manchas de sangue
nas minhas roupas
e deixei meus seios despencarem.
Palavras são armas
para crucificar.
….
Don’t look for my life in these poems
Poems haver order, sanity
aesthetic distance from debris.
All I’ve learnt from pain
I always knew,
but could not do.
Não tente encontrar minha vida nestes poemas
Poemas têm ordem, sanidade,
distância estética dos escombros.
Tudo o que aprendi com a dor,
eu sempre soube,
mas não pude fazer.
…
For Rita’s daughter, just born
Luminous new leaf
May the sun riser gently
on your unfurling
in the courtyard always linger
the smell of earth after rain
the stone of these steps
stay cool and old
gods in the niches
old brass on the wall
never the shrill cry of kites
Para a filha de Rita, recém-nascida.
Folha nova luminosa
Que o sol nasça suave
sobre seu desabrochar
no quintal permaneça sempre
o cheiro de terra depois da chuva
que a pedra destes degraus
mantenha-se fresca e antiga
deuses nos oratórios
bronze velho na parede
e nunca o grito estridente dos gaviões