Poemas de Carlos Machado

Leia os poemas "Alfândegas", "Lanterna" e "Madame Satã"
Carlos Machado, autor de “A mulher de Ló”
01/12/2020

Alfândegas

Que são os bares senão alfândegas
marítimas da alma?

Enormes navios de carga,
os corpos, abarrotados de mágoas,
aportam no cais.

E as autoridades da aduana
— garçons e bartenders —
vão trocando pesares por garrafas,
azares por novas taças,
altares por esquecimento
(com direitos extras
a náuseas e complicações hepáticas).

No fim, os corpos desatracam
suas âncoras e cordames.

Estão pejados de bruma etílica,
mas agora são pássaros
— gaivotas, andorinhas —
ágeis e livres
de seus antigos carregamentos.

…..

Lanterna

Acende a lanterna e ilumina
esse canto ermo
que todos fingem esquecer.

Ilumina, e surpreende
a ti mesmo:
revela os bichos peçonhentos
que talvez carregues no escuro.

Acende a lanterna e põe o foco
nesse canto enfermo.

Pensando bem,
é melhor que passes rápido
e de luz apagada.

…..

Madame Satã

lua nos arcos
da lapa

navalha
nua

aço aceso
para o bote

meia-lua
na glote

navalha-
me deus

Carlos Machado.

Nasceu em Muritiba (BA). É jornalista e poeta. Autor dos livros A mulher de Ló (2018), Tesoura cega (2015) e Pássaro de vidro (2006). Mantém o site Alguma Poesia (www.algumapoesia.com.br).

Rascunho