trilhos metálicos
dormentes sobre pedras
rodas siderúrgicas
{o cobre} Amilcar de Castro e Tomie Ohtake
rota retilínea serpenteia
as estações
da infância e da velhice
a vida passa
ao longo das paradas
uma amoreira
um dia inteiro
a espera
o tempo de relógio em sentido horário
encontra atrasado
o tempo da jaqueira
dois cães brincam embaixo do escolar
o tronco caído é o raio
da madrugada
estrondo em luz e morte
ao que o casal naquela casa
se olha nos olhos
lá longe
tantos vagões
formam uma composição
a vaca e o bezerrinho correm
morro acima
o pasto!
pro meio do pasto
gentes inspiram de encher os pulmões
devolvem ar à pele verde
o cão late pra chave perdida
na praça, o chaveiro cheira a humana
que vai no trem
e dali acena
pras amoras madurinhas
o cabo de alta tensão
é mítica também
e conduz
o grafite e o papel
já são quase excêntricos
neste trecho faz sol
e ainda tem amor
ferrovia
desata a lembrança
da beira doce
rever o último tio
e então se saber de vez
chega num ponto em que
não poderia trair
outra pessoa
senão ela própria
desfaz tudo
esse vagar desta
máquina do tempo
revoada nuvem ascendência
próxima parada
Resplendor